A MORTE E O TRAPALHÃO

Vicente de Paula Santos, pai do Dilton, figura folclórica do bairro, foi o meu treinador na equipe de futebol infantil do Esporte Clube Renascença.

O Vicente era versátil. Além do futebol, era teatrólogo amador, encena-

va e dirigia peças no auditório do Lactário da Igreja de Santo Afonso, co-

mo "Os Dois Sargentos", que arrancava lágrimas da plateia. O homem era uma fera!

Conterrâneo meu lá de Paraopeba, vizinho de Caetanópolis, era bom contador de "causos" também, como o pessoal daquelas paragens. Nar-

rava uma historia dum sujeito trapalhão, que vivia aprontando com tudo

e com todos. Alguém lhe perguntou um dia se não tinha medo da Morte

e ele, matreiro, retrucou:

"- Quando ela chegar, boto uma touca, camisola e chupeta e vou brincar com as crianças lá de casa. "

E, dessa maneira, continuava a sua vida repleta de alegria, agitação e

novidades, pouco se importando com o futuro. O que valia era o presen~

te. Um belo dia eis que a Morte bate à sua porta. A mulher atendeu e ele,

percebendo a encrenca, enfiou-se numa camisola, pôs a touca e, de chu-

ta, imiscuiu-se no meio da garotada que brincava no fundo do quintal.

Sua mulher informou à Dona Morte que o marido não estava em casa,

tinha viajado, etc e tal. A visitante coçou a testa de leve com a ponta da

sua foice e falou:- "- Ah, que pena, logo hoje que vim buscá-lo. Mas não

há de ser nada. Pra não perder a viagem, vou levar aquele menino ali de

touca, chupeta e bigode!..."

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 08/09/20

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 08/09/2020
Código do texto: T7057894
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