A Vida após a anestesia!
E aquela voz continuava me interrogando:
-Seu nome? - Fernanda
- Seu endereço? - Avenida Atlântica, número....não sei...não me recordo...
As perguntas continuavam a martelar meu inconsciente numa chamada à realidade...
-Sua idade.... -eu não sei...não sei....
Em meu devir louco, pensei: - deve ser alguém da Gestapo, da SS, que, friamente, sem se importar com a minha dor, me importunava, causando pânico e medo!
Eu tinha que responder corretamente, tinha que provar que estava lúcida!!!
Não sei quanto tempo se passou, mas finalmente, ouço uma voz amiga. Uma voz acalentadora que me tranquiliza e me dá segurança, mas, a mensagem é preocupante: '- Alguma coisa se complicou, vamos ter que mudar os meios. Não será mais natural! Fique calma! E o mais importante: NÃO SE MOVA! FIQUE PARADA! Vamos ter que te dar uma injeção na coluna!! É IMPORTANTE QUE FIQUE PARADA!
A sensação de que eu era uma cobaia aumentava. Não tinha mais vontade própria, minha vida não dependia mais de mim! Só aquelas vozes ditavam as normas!
Em minha mente surgiu Clara, Claridade, Guerreira, que também foi cobaia.
- Meu marido, será que ele sabe? Avisem a ele!! acho que falei ou pensei, não sei...num apelo mudo à vida!
Na posição fetal, me perguntava:
- Será que o fim é a volta a origem, à essência?
Mas a angústia continuava.
-Será que é um sonho? Meu Deus, eu quero acordar!!!
De repente, um pano. É azul! Ah! Que bom! Eu estou enxergando! É um pano Azul!!! Um grande pano azul que estava cobrindo a realidade...
A minha realidade...
Nesse momento, senti que meu corpo se desligava de mim. Eu não era mais matéria, só o pensamento fluía, incessantemente em perguntas sem respostas...
De repente, a sala se iluminou, num clarão de Amor e Vida!!!
Foi quando ouvi um choro, um choro de criança, o choro da minha criança, da minha primeira filha!
E uma voz de mulher falou: " É uma menina, uma linda e saudável menina!"
Então eu respirei fundo e chorei, na verdade, me debulhei em lágrimas de Amor e Agradecimento.
Tinha recebido uma grande Bênção!
Minha primeira filha!
(Texto escrito em 1984, após o nascimento da minha primeira filha. Seria parto normal, mas de última hora, o médico informou que eu teria que fazer uma cesariana e tomar uma peridural)