RETROCESSO HUMANO POR CONTA DA NATUREZA
Esta chuva que não para, me faz avançar no tempo de meu sono. Sair da rotina incomoda, pois já teria deitado e nem bem prefaciado com Deus e me posto em sono leve.
Passados quase 20 anos, lembro-me de uma semana tipo esta, chuva e chuva, do costume de subir três vezes por semana, as encostas da colina que começava quase no meu quintal, sábado e segunda-feira eu havia abdicado, então na quarta-feira, subi com chuva mesmo. Tomei uma trilha mais aberta, para evitar riscos do solo encharcado.
Na metade da subida, avistei alguns objetos, junto de uma árvore enorme, havia também um edredom grosso, muito sujo, que de dentro deixava um pé a descoberto.
De pronto acreditei ser um féretro ali abandonado, coisa não muito incomum, 500 m adiante, espaço conhecido como buraco quente.
Refeito do susto, apanhei uma vara numa das mãos e cutuquei o tal pé,
enquanto a outra mão permanecia preparada para qualquer reação mais forte que eu precisasse, então lentamente o edredom começou a movimentar-se, até que apareceu uma cabeça, também assustada.
Indaguei o rapaz porque ele estava no meio daquele lixo todos e dormindo na mata.
Ele respondeu-me:
- "É a natureza!"
Conversei uns 10 minutos com ele. O que ele dizia ser a natureza era a vida que ele levava depois de ter sido expulso de casa, no bairro Serraria, por usar drogas.
Comentando o ocorrido com o caseiro da associação comunitária, fiquei sabendo que o rapaz descia depois do meio dia, catava restos de comida nas lixeiras e baganas de cigarros e a tardinha ele retornava à mata, recolhendo-se ao que chamava de ninho. Assim ele já havia posto fogo em mais de 10 frondosas árvores, pois aninhava-se junto as raízes onde armava uma pequena fogueira para esquentar-se e espantar os insetos.
Nas contas do caseiro, o rapaz era um "doido varrido".
Se doido varrido ou não, ele havia se conformado que a desgraça que o abatera, batizando-a como natureza!