A Dança das quintas-feiras
Dia 13 de outubro foi aniversário de minha cidade. Um dos eventos comemorativos foi a apresentação da Big Band no Coreto da Praça Principal. A Big Band é maravilhosa. Ela se apresentou pela primeira vez em Praça Pública o ano passado durante a 2ª Mostra Cultural de Lavras, que é responsabilidade do Departamento que chefio.Este ano ela voltou a se apresentar em agosto, abrindo as comemorações da 3ª Mostra Cultural. Eu tenho um xodó especial por ela e embora o Departamento de Cultura não tenha sido responsável pelos eventos comemorativos do aniversário, foi através de mim que se fez o contato com a banda. Por isso, e também porque eu gosto muito de suas apresentações, fui cedo para a Praça. Lá chegando notei que quase todas as mesas e cadeiras que haviam sido espalhadas pela Praça já estavam ocupadas. Mas, bem em frente ao palco havia uma mesa com quatro cadeiras vazias. Olhei, procurando ver se tinha algum conhecido meu em algum lugar, representantes da Prefeitura, alguém com quem eu pudesse me assentar, mas ninguém havia ainda chegado. Então, me sentei sozinha em uma das cadeiras. Agora éramos eu, a mesa e três cadeiras vazias. Imaginei que logo alguém chegaria e se assentaria ali comigo, mas não marquei lugar para ninguém, Fiquei então absorta, perdida nos movimentos da banda, que já no palco, passava o som e se organizava. Era uma bela noite de outubro e a Praça de minha cidade é linda.Fiquei olhando a fonte luminosa, o balanço dos galhos das árvores, o cheiro das flores.Fui acordada de meu devaneio por um casal que chegava. A mulher disse: podemos sentar aqui com você? É claro que a resposta foi: é claro.Eles confabularam entre si e pude notar que o homem escolhia a melhor cadeira para a mulher, com uma gentileza surpreendente. Logo depois, escolhidos os lugares, eles se assentaram: um a esquerda e outro a direita. Eu fiquei no meio, entre os dois. E a conversa começou: - eu conheço você de algum lugar, ela disse. Ele completou:ela é a Maria Olimpia, lá da Padaria Rocha. Ah!, a professora?!! eu já ouvi falar de você. Resumindo o preâmbulo da conversa confirmei quem eu era e o papo seguiu adiante.Eu o reconheci como um bancário que trabalhou há bastante tempo em um banco quase em frente a minha fábrica de pão, irmão de uma quantidade infinita de ex-alunos meus e um bom tempo se passou nesse assunto de relembranças.Depois o assunto voltou para a Big Band e eu pude dar bastante informação sobre ela, que eles ainda não conheciam.Descobrimos, a moça simpática e eu, que somos filhas de músicos. Ela conhecia alguns que compunham a Banda que a estas alturas já estava se apresentando oficialmente e ficamos ali contando alguns casos, falando de músicos e de antigas bandas famosas em nossa cidade. Há uma certa altura ela perguntou: aquele ali é o filho do ....? eu confirmei, ela disse, o pai é mais bonito. Eu completei: e mais simpático também. Ela pensou um pouco e disse. Você também é. Eu sou o que? . Simpática, ela respondeu. Acho que fiquei um pouco sem graça e sem assunto e então para ter assunto falei. Podem dançar, se quiserem. "Ah, não...aqui não. Eu adoro dançar, mas lá no Dance Bem." - "Ah, vocês costumam ir lá?" - "Eu sim, ela não" - "O que? Você deixa seu marido ir lá sozinho" - "Eu não gosto de dançar e ele adora"- "Mas, você vai sem ela? Por que não a leva?" - "Ela pode ir quando quiser, eu não me importo. É ela quem não gosta de ir"- "Ele diz que eu o atrapalho" - "Atrapalha mesmo. Ela fica escolhendo com quem eu vou dançar, implicando com o que eu bebo"- "Mas você já viu como bêbado é chato? Ele fica muito chato quando bebe" - "Imagina, escolher com quem eu danço.Eu gosto de dançar com quem dança bem". Eu ria de dar gosto. Resolvi perguntar se as pessoas não fofocam. Ela confirmou. "Me ligam contando com quem ele dançou. Estes dias me disseram que ele estava com uma morena linda"- Você não ficou com ciúme?"- "Era a irmã dele".Perguntaram-me se eu ia lá também e eu respondi com uma pergunta: "Qual é o dia das Coroas?". Ele riu e respondeu: é nas quintas-feiras. De vez em quando ela falava baixinho alguma coisa só para que eu ouvisse e ele esticava os olhos, tentando ouvir. É claro que eu não repetia, e nem vou repetir agora, conversa entre amigas fica só entre amigas. Mas descobri muitas coisas sobre os dois, como por exemplo que têm mais de vinte anos de casados e que ela acha que agora ele é mais bonito que antes. De repente ela quis ir embora e ele me disse:novela. Os dois se levantaram e ele reforçou o convite: vá lá quinta-feira.Não me lembro o que respondi, talvez tenha sido : eu não sei dançar, o que certamente não é verdade. Os dois sairam de mãos dadas, ela olhou pra trás com um sorriso cúmplice. Tive vontade de correr atrás e perguntar:" ei, qual é o seu nome?". Mas não foi possível, minha nova amiga desapareceu na multidão e um novo casal se achegou, um casal de meia idade, de mãos dadas,e a mulher me perguntou: podemos nos sentar aqui com você. Mas isto é uma história para uma nova crônica.
Dia 13 de outubro foi aniversário de minha cidade. Um dos eventos comemorativos foi a apresentação da Big Band no Coreto da Praça Principal. A Big Band é maravilhosa. Ela se apresentou pela primeira vez em Praça Pública o ano passado durante a 2ª Mostra Cultural de Lavras, que é responsabilidade do Departamento que chefio.Este ano ela voltou a se apresentar em agosto, abrindo as comemorações da 3ª Mostra Cultural. Eu tenho um xodó especial por ela e embora o Departamento de Cultura não tenha sido responsável pelos eventos comemorativos do aniversário, foi através de mim que se fez o contato com a banda. Por isso, e também porque eu gosto muito de suas apresentações, fui cedo para a Praça. Lá chegando notei que quase todas as mesas e cadeiras que haviam sido espalhadas pela Praça já estavam ocupadas. Mas, bem em frente ao palco havia uma mesa com quatro cadeiras vazias. Olhei, procurando ver se tinha algum conhecido meu em algum lugar, representantes da Prefeitura, alguém com quem eu pudesse me assentar, mas ninguém havia ainda chegado. Então, me sentei sozinha em uma das cadeiras. Agora éramos eu, a mesa e três cadeiras vazias. Imaginei que logo alguém chegaria e se assentaria ali comigo, mas não marquei lugar para ninguém, Fiquei então absorta, perdida nos movimentos da banda, que já no palco, passava o som e se organizava. Era uma bela noite de outubro e a Praça de minha cidade é linda.Fiquei olhando a fonte luminosa, o balanço dos galhos das árvores, o cheiro das flores.Fui acordada de meu devaneio por um casal que chegava. A mulher disse: podemos sentar aqui com você? É claro que a resposta foi: é claro.Eles confabularam entre si e pude notar que o homem escolhia a melhor cadeira para a mulher, com uma gentileza surpreendente. Logo depois, escolhidos os lugares, eles se assentaram: um a esquerda e outro a direita. Eu fiquei no meio, entre os dois. E a conversa começou: - eu conheço você de algum lugar, ela disse. Ele completou:ela é a Maria Olimpia, lá da Padaria Rocha. Ah!, a professora?!! eu já ouvi falar de você. Resumindo o preâmbulo da conversa confirmei quem eu era e o papo seguiu adiante.Eu o reconheci como um bancário que trabalhou há bastante tempo em um banco quase em frente a minha fábrica de pão, irmão de uma quantidade infinita de ex-alunos meus e um bom tempo se passou nesse assunto de relembranças.Depois o assunto voltou para a Big Band e eu pude dar bastante informação sobre ela, que eles ainda não conheciam.Descobrimos, a moça simpática e eu, que somos filhas de músicos. Ela conhecia alguns que compunham a Banda que a estas alturas já estava se apresentando oficialmente e ficamos ali contando alguns casos, falando de músicos e de antigas bandas famosas em nossa cidade. Há uma certa altura ela perguntou: aquele ali é o filho do ....? eu confirmei, ela disse, o pai é mais bonito. Eu completei: e mais simpático também. Ela pensou um pouco e disse. Você também é. Eu sou o que? . Simpática, ela respondeu. Acho que fiquei um pouco sem graça e sem assunto e então para ter assunto falei. Podem dançar, se quiserem. "Ah, não...aqui não. Eu adoro dançar, mas lá no Dance Bem." - "Ah, vocês costumam ir lá?" - "Eu sim, ela não" - "O que? Você deixa seu marido ir lá sozinho" - "Eu não gosto de dançar e ele adora"- "Mas, você vai sem ela? Por que não a leva?" - "Ela pode ir quando quiser, eu não me importo. É ela quem não gosta de ir"- "Ele diz que eu o atrapalho" - "Atrapalha mesmo. Ela fica escolhendo com quem eu vou dançar, implicando com o que eu bebo"- "Mas você já viu como bêbado é chato? Ele fica muito chato quando bebe" - "Imagina, escolher com quem eu danço.Eu gosto de dançar com quem dança bem". Eu ria de dar gosto. Resolvi perguntar se as pessoas não fofocam. Ela confirmou. "Me ligam contando com quem ele dançou. Estes dias me disseram que ele estava com uma morena linda"- Você não ficou com ciúme?"- "Era a irmã dele".Perguntaram-me se eu ia lá também e eu respondi com uma pergunta: "Qual é o dia das Coroas?". Ele riu e respondeu: é nas quintas-feiras. De vez em quando ela falava baixinho alguma coisa só para que eu ouvisse e ele esticava os olhos, tentando ouvir. É claro que eu não repetia, e nem vou repetir agora, conversa entre amigas fica só entre amigas. Mas descobri muitas coisas sobre os dois, como por exemplo que têm mais de vinte anos de casados e que ela acha que agora ele é mais bonito que antes. De repente ela quis ir embora e ele me disse:novela. Os dois se levantaram e ele reforçou o convite: vá lá quinta-feira.Não me lembro o que respondi, talvez tenha sido : eu não sei dançar, o que certamente não é verdade. Os dois sairam de mãos dadas, ela olhou pra trás com um sorriso cúmplice. Tive vontade de correr atrás e perguntar:" ei, qual é o seu nome?". Mas não foi possível, minha nova amiga desapareceu na multidão e um novo casal se achegou, um casal de meia idade, de mãos dadas,e a mulher me perguntou: podemos nos sentar aqui com você. Mas isto é uma história para uma nova crônica.