A HORA DA VERDADE
"Seu" Chiquinho era um sitiante na localidade de Taquaral do Brejo, lá
pras bandas de Inimutaba (Cachoeira de Curvelo/MG), conhecido por fa-
bricar uma cachaça danada de boa, a "Aguardente Beija-Flor".
Um produto artesanal, sua pinga tinha produção limitada, vendida aos
comerciantes das redondezas, os quais faziam a "Beija-Flor" chegar às
mesas de clientes tradicionais, entre eles o Cel. Boaventura, de Inimuta-
ba, grande apreciador da aguardente do compadre Chiquinho.
"Seu" Chiquinho circulava por todos os lugares com sua "Toyota" velha,
muito antiga mas conservada e bastante resistente, afeita aos buracos,
mata-burros e estradinhas de terra reservadas aos incautos. Carregava a
"Toyota" com as caixas da "Beija-Flor" e saía, junto com um ajudante, Fi-
ló, percorrendo as redondezas para entregar sua famosa aguardente.
Certo dia "Seu" Chiquinho adentrou a Vila Cruzeiro, no distrito de Em-
biruçu, próximo à Inimutaba, com algumas caixas de aguardente, quan-
do se distraiu por momentos e deu uma raspada com o para-choque da
"Toyota" na lateral de um automóvel, carro de fora, estacionado defronte
à Farmácia São José.
Desviou rápido mas o estrago já tinha sido feito:- a lâmina do para-choque da camioneta, mais parecida com um trilho, tão forte que era,
rasgara a chapa da porta do automóvel. Com o barulho e o grito do Filó,
o ajudante , o dono do carro saiu da farmácia com as mãos na cabeça:-
"- Ah, meu Deus do céu! Que merda foi essa? Não tem carteira não,
velho imbecil?"
"- Calma aí, meu filho! Vamos conversar!" - ponderou o Chiquinho.
"- Eu não quero conversa porra nenhuma!..."
"- Calma aí, "seu" !
"- Olha aí, toma um golinho desta aguardente! Só pra acalmar você!"
E entre um golinho e outro, "Seu" Chiquinho embebedou o rapaz e
concluiu, dizendo:-
"- Agora que tá calminho, vou chamar a Polícia e pedir pra fazerem o
teste do bafômetro em vosmicê, tá certo?"
-o-o-o-o-
B.Hte., 07/09/20