O Fogo
Começou com uma linha fininha de fogo acompanhando o desenho da serra. De noite, era um espetáculo bonito de se ver, ainda que triste. Na seca de setembro, o fogo ganha força rapidamente, e queima os pastos com uma rapidez impressionante.
Parece longe de casa, na fazenda, mas a gente não se cansa de conferir, miudamente, chegando na varanda da cozinha, no sentido oeste.
Agora, às 3 horas da manhã, a linha de fogo já está mais grossa, e não só acompanha o relevo da serra, mas descem da colina várias linhas, como lavas de vulcão. Lágrimas de sangue na escuridão da noite. Pelos bichos do bioma do cerrado, pelo gado, pela vegetação, pelos ipês que florescem, pelos roçados, e pelos fazendeiros... cá dentro tem lágrimas que só os olhos sabem fazer.
(No dia seguinte)
A serra hoje acendeu seu cachimbo e dá muitas baforadas... Um dó! De madrugada, chorou lágrimas de fogo, cumprindo a sina da natureza de queimar pra renovar. Porém, chorou pela vegetação e animais incendiados...