Por que Ser Tão Insensível

Estava de bobeira e meio chateado por não haver as comemorações do sete de setembro em Brasília. Aqui é muito bonito e emocionante quando acontece os desfiles, os discursos patrióticos. O verde e amarelo tomando conta de tudo, e a gente sentindo a brasilidade no peito, o ser cidadão brasileiro se apresentando e se emocionando com o mais belo dos Hinos à Pátria brasileira. Não querendo trabalhar, mas, mesmo assim, voltei à minha mesa, liguei o computador e, na proporção que a tela se abria, surgiu a imagem de um tigre. Fiquei por uns instantes meio hipnotizado pela extraordinária foto. Não desejei apagar a foto. Comecei a observar as linhas desenhadas sobre a pele do tigre, nenhuma delas era conclusiva e nem tão pouco retas. Pensei comigo: era como se no momento da criação o desenho na prancheta me convidasse a traçar cada linha – isso é maravilhoso! Vou ficar observando por um pouco..., mas, porque assim? Não somente por diferir dos demais animais, era muito mais. De repente, quase um diálogo com o Criador: Foi para que eu fosse mais sensível? Isso tem a ver comigo? Foi para que eu disse alguma palavra? Mas que palavra traduziria o que tanto me desafia? Como que numa resposta singela: glorifica o Meu nome!

Eu havia acabado de molhar a minha horta, e já havia me quedado ante uma Joaninha, querendo esmagá-la, pensando estar estragando a minha couve. Não tinha tido coragem, tão logo havia contemplado as pintinhas pretas em contraste com o casco vermelho. Não posso fazer isso! Foi quando me veio a mente os ensinos do meu amigo Sr. Florindo – ele sabia tudo de horta: “nunca mate uma Joaninha na sua horta, elas são amigas, elas ajudam a combater aqueles insetos indesejáveis”. Com isso, deixei que ela continuasse passeando pelas folhas de couve.

Tomado pelo pouco caso do dia, julgando ter perdido o desfile de sete de setembro, quando queria ostentar a minha linda Bandeira. Espera aí, e esse dia lindo não tem nada a ver? Por que não contemplar a imagem de um Tigre tão belo, tentar encontrar as respostas de tantas perguntas aparentemente tolas vindo à mente. Por que ser tão insensível? Não teria sido coisas do espírito que habita em cada um de nós, talvez desejando estabelecer uma comunhão com o Criador? Quem sabe até sair por aí caçando bichinhos pelos matos, ou, por que não, encontrar pessoas outras se não aquelas do meu dia a dia, ofertar o meu “bom dia!”, dar um sorriso aberto, sem medo de ser contaminado pelo COVID 19. Bem sei que podia ser mais sensível em reconhecer as pessoas, sejam bichinhos minúsculos ou mesmo um Tigre e dar glórias a Deus por toda a sua Criação! Que pena, como somos brutos e insensíveis! Um mundo todo à nossa frente, coisas tão belas frente aos nossos olhos, como poder ignorá-las?

De repente, indo pelo caminho, vejo um homem de cor negra sentado na calçada. De barbas longas, já esbranquiçadas pelo tempo, de roupas maltrapilhas, desolado, esquecido sob um sol de meio dia. Nós passamos por ele, mas a imagem ficou grudada em nossa mente, era como dizendo: você viu? Era um seu semelhante! Como sabia que ter remorso não salva, pedi ao meu amigo que ia junto comigo: podia preparar uma marmita para aquele homem? Logo que a marmita ficou pronta, voltamos até ele. O senhor aceita? Mostrando a marmita e sendo recompensado por um largo sorrio. Posso tirar uma foto? Com a resposta positiva, tirei a foto, hoje ela faz parte do meu livro mais recente: “Salve um Aposentado”.

Coisas assim, parecem não ter grande valor, todavia, produz na alma da gente um alívio e contentamento por nos tornarmos mais sensíveis ao que os nossos olhos contemplam. Deus se manifesta por toda a sua criação, e ainda tem gente que não consegue ver, vivendo tão cético, mesmo morando no Reino encantado de Deus. Preciso ser mais sensível. 07\09\2020