Mostrando quem somos

Antes mesmo de o mundo apontar seus holofotes para a globalização, a utopia de alguns sonhadores era com o que chamavam de aldeia global. Apesar de inocente havia certa lógica. Uma humanidade única deveria despertar o seu espírito de união. Infelizmente só vemos esse tipo de espírito na ficção. Lembram-se do filme “Independence Day”?

Os estudiosos divergem sobre a globalização. Uma corrente diz que ela teria começado com as grandes navegações. A moderna que conhecemos data do fim do século passado. Com a chegada da Internet, a globalização aprofundou as transações comerciais. Os mercados financeiros foram os mais beneficiados. Porém, o sonho de uma globalização social e cultural com a disseminação do conhecimento esteve longe de acontecer.

Sem os avanços da tecnologia, possivelmente a Internet não teria alcançado o patamar que conhecemos. É mais que globalização. Hoje o planeta está conectado. Carregamos o mundo em nossos telefones celulares. Com o toque de um dedo podemos ir ao encontro do “Big Bang” distante 14 bilhões de anos.

Os sonhadores da aldeia global voltaram a sonhar. Não deveriam. O planeta conectado está mostrando quem somos. E quem somos é muito feio. Um motivo de vergonha para a humanidade. Como raça inteligente somos vítimas das lavagens cerebrais dos ambientes nos quais vivemos. As convenções. As crenças. As sociedades nos adoecem.

Com o mundo conectado na palma da mão, podemos chegar próximos para enxergar o abismo econômico entre o topo e a base da pirâmide social. Para se ter uma ideia, em 2015 metade de toda a riqueza do planeta estava nas mãos de 1% da população. Este cenário pouco se alterou nestes últimos cinco anos. Um exemplo dessa desigualdade. Os 70% mais pobres vivem com rendas muito baixas ou estão abaixo da linha da pobreza.

Também não fomos preparados para os choques culturais e as diversidades promovidas pela humanidade. De repente, estamos nos descobrindo o que sempre fomos. Uma raça dominada pelos preconceitos. O diferente tem a capacidade de nos abalar e apontar o dedo se torna uma das nossas premissas.

Uma superioridade imaginária sempre acompanhou a nossa raça durante a evolução. A caminhada humana no planeta sempre foi marcada por banhos de sangue, sede de vingança, matanças e supremacia racial. Inacreditável é que todos esses horrores continuam sendo causados por uma raça que se autodenomina inteligente. Temos sorte de não ter parâmetros para o que é ser inteligente.

Estamos destilando doses cavalares de ódio contra o que não nos é conveniente. Estamos no front de uma pandemia invisível que pode causar danos irreversíveis. Armados atiramos a primeira pedra, a segunda, a terceira. O desejo mórbido de mostrar quem somos. Nossa essência nada divina, mas nossas garras animalescas.