A fronteira final

Boa madrugada meus 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez passam por aqui a fim de ver até onde vai a capacidade desse Bacamarte em superar os buracos da estrada da vida e produzir excelente literatura. Qual a fronteira final para um cronista? Ora, o espaço é a fronteira final para todos, até para os cronistas! E o espaço está nas três temporadas da série clássica de TV de Jornada nas Estrelas na Netflix. Nelas, dá para ir até onde nenhum outro ser humano jamais foi.

Quando até os padres de Charky City estão intubados na UTI do hospital por Covid-19, então o negócio é ir se queixar com o bispo ou ficar em casa. Melhor ficar em casa, né? Mais seguro. Fiquei em casa, óbvio. Quem tem pulmão, tem medo. E em casa estão nossos discos e nossos livros, e nada mais, como na canção do Zé Rodrix. Nada mais? Claro que não! Estamos em 2020, temos internet e Netflix. E na Netflix encontramos as séries para veteranos como eu olharem as antigas que falam sobre o futuro. Louco isso né, olhar uma série velha, dos anos de 1960, para perscrutar o futuro?

A Louise gosta de olhar Greys Anatomy. Eu até vejo, mas acho chato. Chato não, é boa, é que prefiro outras coisas do que SS (sangue e sexo). Então meu lance mesmo foi descobrir que tinha lá Jornada nas Estrelas. Uma série iniciada em 1966 e que já antecipava o celular, a era da informática e a discussão livros x computador! Num dos episódios que assisti hoje, um advogado recusava os dados do computador e preferia ficar lendo seus livros para preparar a defesa do capitão Kirk, da nave espacial Enterprise, de um perrengue em que ele se meteu.

Pra mim tá sendo legal porque eu não recordava muito bem dela, embora passasse na TV nos anos 1970 e o jovem Bacamarte assistisse. De cabeça lembrava do Kirk, do Spock - o icônico vulcaniano de orelhas pontudas -, do doutor McCoy, do Sulo e da Uhura, todos com aquelas roupas coloridas e, no caso das mulheres, bem curtas. Então tá sendo um barato usar a Enterprise para tapar os buracos do presente, entrando numa jornada do passado sobre o futuro. E dá para curtir agora, veterano, todas as alusões que a série fazia sobre o seu tempo, usando o espaço como metáfora, e que antes eu não percebia. Jornada nas Estrelas é uma série típica dos anos 1960, da contracultura, da mudança de costumes, das liberdades individuais, da superação do preconceito racial, do belicismo e da discussão da racionalidade x sentimentos. Por isso hoje ela soa atual, pois ainda fala algo para esse mundo que evoluiu justamente daquelas discussões sessentistas.

Não sei se na verdade há uma última fronteira, até porque não se sabe dos limites do espaço, né? Por aqui vemos que a fronteira final é estarmos numa pandemia onde centenas de milhares morrem enquanto uns se preocupam não com a vida, mas com poder e dinheiro. Até religiosos nessa! Nos tornamos um ser econômico, não ser humano. Esse será o lugar em que nenhum ser humano jamais esteve, eis que deixou de ser humano?

Somos coisas, androides, objetos a serviço da roda da economia que esmaga os vulneráveis da sociedade ao girar impiedosamente. Assim, Jornada nas Estrelas faz pensar sobre o presente, ao mesmo tempo que é lúdico lenitivo para fugirmos dele, momentaneamente. Logo, ficamos imersos, mas não Perdidos no Espaço. Mas essa é uma outra série para uma outra crônica.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".).

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 07/09/2020
Reeditado em 07/09/2020
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