TRINTA E CINCO DIAS E TRINTA E CINCO NOITES...

Não é um recorde para muitos. É para poucos! Somente, talvez, um grupo “seleto” de apreciadores sem limites, é capaz de o fazer. Afinal de contas, passar trinta e cinco dias e trinta e cinco noites, bebendo, não é de maneira nenhuma, algo para se desprezar!

Após algumas semanas e muitos meses também, sem nenhum contato com o “dito cujo” e acreditando que alguma espécie de milagre poderia ter ocorrido, resolvi colocar o rancor de lado, e numa espécie de cortesia, tentar levar alguma espécie de alento, uma ou outra palavra de enaltecimento àquela criatura perdida nos meandros obscuros dos vícios dos mais rasteiros!

Somente para ouvir algo que no fundo desconfiava, mas, precisava ouvir da boca de outros parentes e confirmar consigo mesmo aquilo que eu tanto gostaria que houvesse eliminado: o desejo insaciável pelo entorpecimento da mente!

Então, ouvi através de sua própria trôpega narrativa: “faz trinta e cinco dias e trinta e cinco noites que bebo...” Não! Impossível, pensei comigo mesmo, mas, para não enaltecer- lhe semelhante feito, fiquei somente nas indagações não verbalizadas, pensando assim: “qual o cristão, em sã consciência, ou melhor, numa insana consciência, que seja, consegue emendar um ‘fogo’ de cachaça em outro, uma ressaca terrível em outra?!” Eu não queria aceitar, mas, fui obrigado a admitir que ao longo do tempo e pelo menos por algum período, até seu carcomido corpo, se cansar definitivamente, começar a apresentar sintomas da degradação afeita aos seres que se comportam de tal maneira, a verdade é que, ele seria sim, capaz daquele feito, depois de ter “praticado tanto”, se aperfeiçoado tanto, nessa tão “inusitada arte!”.

Isso porque, não se pode medir o comportamento de qualquer um, por nossa “régua” de comparação! O que quer dizer que aquilo que para um pode ser insuportável, inaceitável, inadmissível, etc., para outro, é simplesmente rotina. E esse seria exatamente o caso!

Enfim, quando eu bebia (e faço realmente voto, que isso seja de fato, um verbo passado), nunca me dei muito bem com a chamada ressaca. Cada vez que passava por uma, tinha quase certeza que não iria sobreviver: dor de cabeça, tontura, ânsia de vômito e vômito muitas vezes, vertigem, angústia, consciência pesada, remorso, vergonha, desespero, etc., eram simplesmente, alguns dos sintomas, que me dominavam, o que sempre me levava a repetir insanamente para comigo mesmo: “essa, essa vai ser a última vez... até a próxima da semana seguinte!” Não o conseguia! Mas, o sofrimento me perseguia, fazendo-me de fato, acreditar que um dia, eu tinha que me livrar daquilo...

Assim como o porco na maioria das vezes, não consegue ficar longe do seu habitat natural que é a lama, ele, de maneira nenhuma ao que tudo indica, não consegue ficar distante do seu copo predileto e que se dane a ressaca e que se exploda os acometimentos do pós bebedeira: ou ignora, ou não sente absolutamente nada, ou não dá a mínima, para esses terríveis sintomas, que vem embutido e escondido em todo copo de chops, de cerveja, de whisky ou de “corote!”

Saindo de uma ressaca, entrando numa outra bebedeira e outra e outra, durante trinta e cinco dias, constante e infalível como uma pandemia!

Que seja, um “super homem” do copo, mas, pelo retrospecto, vai entrar e galgar os mesmos caminhos que outros tantos, tão ou mais forte que ele, trilharam e foram vencidos... e acabaram derrotados e terminaram destruídos pelo desejo de beber! Fugindo da realidade para se abrigarem no “aparente” porto seguro, das alucinações e dos desejos! Nessa guerra, nessas batalhas, pessoas com esse perfil, nunca saíram vencedores da “refrega!” Foram derrotados por seus mais próximos e ferrenhos inimigos: eles próprios e o seu vício...

Jfranck
Enviado por Jfranck em 07/09/2020
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