CONVERSA DE AMIGOS

- Olá! José! Quanto tempo, tudo bem contigo?

- Oi Joaquim, estou bem sim, meio cansadão, sabe como é, vida de quem trabalha no comércio é quase escravidão, mas, estou vivo, de bobeira por aí, e você cara, como está?

- Eu estou bem, trabalhando bastante também, essa é nossa vida.

- Ainda na mesma empresa?

- Sim, quinze anos já, parece que foi outro dia que comecei lá.

- Caramba, quinze anos, como passa rápido.

- E como anda as coisas no mercado, tranquilo?

- Nada disso, aquele lugar Leva-nos ao extremo. Trabalhamos feito loucos, das seis da manhã às cinco é dez da tarde.

- Como assim? Onze horas de trabalho é muita coisa, oito horas eu já acho absurdo, imagine onze.

- Ao extremo Joaquim! Leva-nos ao extremo de nossas forças, absurdo. Nunca que imaginei passar tal situação, que saudades tenho da firma. Sem dizer nas folgas, um dia apenas, temos que trabalhar por três quatro, e tome cobrança.

- E você não diz nada? Você sempre foi de falar, nunca abaixou a cabeça para nada. O que aconteceu contigo José?

- Dizer o quê? O que você queria que eu dissesse, nós trabalhamos como loucos. E outra… uma andorinha sozinha não faz verão, na firma era diferente, a maioria comprava a causa, lá não, é cada um por si.

- Sei lá… Se defender pelo menos. Assim como você fazia na empresa.

- Impossível meu amigo. Os tempos são outros, a realidade que me cerca bem diferente agora.

- Como impossível? Não me envergonhe homem, existem leis nesse país, diretrizes, CLT, tanta coisa.

- Sim, claro, mas, acontece que essas leis nunca funcionam pra gente que trabalha no comércio, parece que nem existe leis para nós. Pode perguntar para qualquer um que trabalha em mercado, a vestimenta pode até mudar, mais o horror da noiva vai ser sempre a mesma coisa em qualquer lugar.

- Isso é um absurdo, não pode ser que uma coisa dessas venha a ocorrer em pleno século 21... Não sei nem o que dizer para você meu velho.

- Viu, é bem isso que estou querendo te falar… O não dizer nada têm as suas vantagens nessa hora. Como diz certo ditado. "As únicas palavras que merecem ser ditas são aquelas melhores do que o silêncio".

- Façamos então um trato.

- Diga-o.

- Vamos ouvir mais e falar menos, você na empresa, eu no mercado, depois, a sós, em nossas casas, avaliamos a situação do nosso dia para ver se foi produtivo ou não, depois, em uma conversa de bar, como essa, trocamos figurinhas de nosso do dia a dia, tomando uma gelada.

- Olha, não tem coisa mais prazerosa.

-Beleza então, combinado. Eu vou indo Joaquim, estou muito cansado, com fome, sono, stress, e olha… a coisa está feia amigo.

- Até mais ver.

- Boa noite.

- Boa noite.