O Céu Acima Da Minha Janela
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Uma pipa dançava no céu acima da minha janela. Ia se indo desordenadamente ao sabor do vento. Estava sem seu dono. A linha fora cortada ou se soltara. Acompanhava o seu balé desordenado.
Seguia rebeldemente em direção ao horizonte, talvez fosse "morrer" no mar deslumbrante e imponente à minha frente. Estava alta, bem alta e determinada a cumprir o seu destino. Caía balançando freneticamente sua cabeça e rabo em tranças, parecendo lutar contra a situação. Observava-a atento. Preocupado!
Aqui, ainda se brinca de empinar pipa, papagaio ou quadrado. Elas aparecem todos os dias no céu acima da minha janela. Acho que querem que eu rememore o tempo em que também as empinava nas ruas de minha infância. Agora, acompanhava-a com o mesmo sentimento de perda que experimentava quando criança.
Acima dela, voavam fragatas em altitude, acompanhando a luta incansável de sobrevivência que enfrentava a pobre pipa para poder, talvez, recomeçar a subir como elas, as fragatas, que pairavam placidamente no céu acima da minha janela. A pipa também nascera para ficar pairando nos céus.
Precisava ser ela resgatada, com um tranco forte e firme da sua linhada, agora solta, por alguém ou alguma coisa que a puxasse ou enroscasse. Torcia para que isso acontecesse. Mas ela se ia, se ia mais e mais na direção firme do seu inevitável e melancólico destino: o mar. Imagino que seu dono, vendo que seria impossível recuperá-la, quão triste e desapontado estaria. Talvez até desesperado estivesse. Eu ficaria!
Da minha janela com o céu acima, acompanhava o seu inexorável caminho ao encontro de seu triste fim. Corajosa era.
O vento aumentou e ela se foi mais rapidamente ainda. Perdi-a de vista, a pobre pipa solitária, no céu acima da janela de minha infância...
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