Madrugada
Madrugada
A madrugada a mim se dá em lenta solidão.
Solidão que me é cara, pois é quando tiro a vida a limpo.
Revejo minha condição da ave que nunca aporta.
Esplêndidos sons noturnos, enquanto vou alivanhando, cortando e medindo a vida na leveza dos que tiveram pedras nas sandálias agora quietas e tristes, neste que é o meu chão.
Sempre reparei na tristeza dos calçados sem a força inebriante dos donos. Mas, é só na madrugada que minha acuidade se aprimora, e, repara detalhes.
E sei que sou assim, qual vampira que ao raiar o sol, se recolhe.
Manhãs de sol são meninas mui traquinas e barulhentas.
Enquanto que a madrugada..essa senhora bem trajada, séria, concisa.
Senhora bondosa e silenciosa que me entrega uma certa chave com a qual adentro recintos vários do intrigante mundo noturno.
E se anômalo é meu caso de amor pelo silêncio e a introspecção que a madrugada trás como lenitivo, uma uva para o enquadramento à bagunça là de fora.
O sol se acha, já nasce estiloso e narciso. Em rompantes, e põe todos os reinos ao seu dispor para saudá-lo.
Portentoso e espalhafatoso com sua fralda amarelo gema.
Até aceito seus afagos sob minha pele. Mas, que não passe das nove horas, que é quando ele ainda engatinha nas diabruras.
Ou, às dezessete horas, quando ele já dá sinais de cansaço.
Trocamos algumas idéias. Coisas de pequena monta.
E, a noite é tão gentil, que silenciosa e graciosa chega aos pouquinhos.
Não sem antes namorar o cansadão.
É quando eu fico rubra ao ver a delicadeza dela. Pois nos oferta ao olhar, seu doce encantamento de fêmea no ato Divino da entrega. E o céu é um véu de várias tonalidades.
O sol se vai e ela cuida o universo de cá para o retorno do esposo tão incompatível. E se faz madrugada.
E suavemente, sem que percebamos ela se faz manhã..e se vai..prenhe do Rei!
Então, vou regar as plantinhas...
Dorothy Carvalho
Goiânia, 04. 05. 2017