DAQUI E DO PLANO DA ETERNIDADE

Hoje acordei com uma imensa solitude, “um estado de privacidade que não significa propriamente estado de solidão”, diz-me o tio Google. Abro o celular e dou de cara com a imagem de Odair Rodrigues, poeta, seresteiro, cantador eterno em meu coração. Abração aos três que me vieram à memória: Vladimir Cunha Santos, poeta, cientista social e antropólogo, editor do livro Pérolas Rimadas, VCS, 2009, de autoria do Odair, e Paulo Ricardo, "O Poeta", seu amoroso filho, e a ti, irmão Odair, hoje em novas paragens junto ao Criador. Perdemos nós, ganhou o plano da Eternidade. Saudade de vocês, nesse ano de chumbo de 2020, em que um vírus altera os nossos mais singelos hábitos de convivência. Nem mais se pode ouvir a viola ao vivo (de perto) no meio da noite, entre um cálice e outro. Agora é o nada, um Nada com "n" maiúsculo, que ganhou pernas e braços e entra pela boca e olhos fazendo estragos insolúveis: suas dúbias e variegadas sequelas. Dia desses o mundo detonará mais do que os pulmões, bordando de tosse e falta de ar até nos momentos de bordoneios e canções. Triste sina a do impotente caçador de almas do séc. XXI. Salvemos a humanidade pelo choro das guitarras e a garganta das canções, ao menos com a ilusão de que o mundo ainda tem a oferecer a "live" de cada um no seu quadradinho, um novo e fugidio "normal" no monitor dos televisores e dependente dos humores altamente instáveis das conexões dos eletrônicos de comunicação entre os encaramujados carregando suas casas nas costas: um caracol babando o rastro no assoalho, do quarto pra cozinha com a natural lentidão dos velhos. Dia desses, em meio a essa modorra do entocamento, um excluído social televisivo, pelo aplicativo de um smartfone, registrará o seu mais recente rebento nos arquivos virtuais do cartório de nascimentos e óbitos: Corona Vírus dos Santos Moncks, filho de pai alienígena, e de mãe terráquea de nome Música Popular Brasileira Sem-Eira-Nem-Beira, filha de pais ignorados, daí porque sem qualquer sobrenome. Bom dia, mundão de Deus!

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

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