Dinheiro Não Aceita Desaforo Duas Vezes
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Saí do supermercado e vi duas moedas no piso da calçada, esperando serem pegas, uma de dez e a outra de cinco centavos. É o local em que ficam alguns moradores de rua pedindo ajuda. Deduzi que algum deles as tivesse deixado cair.
Parei para encará-las. Fazia tempo que não encontrava nenhuma, fato que antes me acontecia com frequência. Achava-as em locais inesperados e imprevisíveis. Não como essas agora ou como as dos boxes dos pedágios nas estradas, em que há sempre alguma no piso e é bem normal encontrá-las ali.
Hesitei, mas me abaixei e as peguei. Dinheiro não aceita desaforo, como se diz.
Com elas nas mãos, pensei comigo: sempre as pego com a superstição de que são como um talismã igual à moeda de número um do Tio Patinhas e que terei sorte, dinheiro e que ficarei rico. Ledo engano, penso agora, só se ganhasse sozinho o prêmio acumulado da Mega-Sena, o que é quase impossível. Estou meio incrédulo.
Uma vez, fui fazer meu mapa astral com uma amiga, por brincadeira, pois não acredito. Dei a hora errada do meu nascimento por desconhecimento e ficou um tanto inexato. Depois, na leitura, disse muitas coisas que nada tinham a ver comigo, mas acertou a previsão de que teria dinheiro necessário e suficiente para viver, não seria nem pobre, nem rico.
Hoje, anos passados deste fato, tenho o necessário e suficiente para enfrentar bem a velhice, nem muito, nem pouco, como previu a minha amiga astróloga.
Olhando para as duas peças em minhas mãos com esses pensamentos, resolvi desta vez não as guardar. Voltei ao supermercado e as entreguei para o caixa, dizendo:
- Vocês devem precisar de moedas para troco, não? Estavam perdidas na frente da loja. Fui desaforado com o dinheiro.
-Obrigada, sempre ajuda - respondeu a moça.
Fui com as compras para o apartamento do meu filho, em que me alojara naquela semana que se iniciava, pois será seu aniversário na quarta-feira sequente.
Também, deveria ir ao banco retirar o novo cartão de crédito, pois o que estava em uso venceria neste mês.
Resolvi ir a pé, uma caminhada de cerca de três quilômetros, pois o dia ensolarado convidava e precisava me exercitar.
Andei até a estação de metrô do Clínicas (o apartamento dele fica em frente o Mackenzie) e desci as suas escadas para passar por debaixo da Avenida Dr. Arnaldo, porque o banco fica na Praça Benedito Calixto, tendo que descer a Teodoro Sampaio até ele.
Ao final da escadaria, vi no chão à minha frente, uma solitária, reluzente e brilhante moeda de cinco centavos, novinha, até parecendo de ouro, tão brilhante era.
- Não é possível! Faz meses que não tenho encontro inesperado com moedas como esses de hoje, e agora. Duas vezes! Vou pegá-la, claro, com ou sem superstição.
Agachei e peguei a linda moedinha, colocando-a no saquinho da minha carteira.
- Dinheiro não aceita desaforo, não por duas vezes. Certo!
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