Em busca de um Castelo prometido – ano 1901 – Porto de Nápoles – Itália
Luzia! Minha pequena, Luzia! Parla Floriano?
Veja este cartaz que recebi em Nápoles! O que diz?
Escute: “Na América – Terra no Brasil para os italianos. Navios em partida todos as semanas do Porto de Gênova. Venham construir os seus sonhos com a família. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos.”
Mamma Mia, Floriano! Será o paraíso perdido nesse mundo? Falou risonha, Luzia!
Ao lado, Giuseppe, pai de Floriano, refletiu: “Sonhos, castelo, terras...aí tem coisas?”
Floriano! Fale Luzia? Mas onde fica o Brasil?
Ah...é aquele lugar descoberto por Cabral!
Sim, sim, eu me recordo! É à terra de muitos papagaios, araras e bananas!
Então o que acha irmos para lá começar uma nova vida? Falou entusiasmado Floriano.
Em nome de San Rocco di Leverano, não sei Floriano! Falou perplexa, Luzia.
Falei com meu irmão Salvatore e ele já está de malas prontas! Disse Floriano.
Mas o nosso pequeno Antonio não fez um mês de nascimento? Emendou Luzia.
Não se preocupe! Eu o levo no colo até o Brasil! E lá teremos o nosso Castelo! Alegre terminou Floriano.
No dia 18 de julho de 1901 lá estavam no Porto de Nápoles:
Floriano com seu Trombone e algumas malas, Luzia e seus filhos: Addorolata, Anísia, Giuseppe e Antonio no colo.
Salvatore, seu irmão, com sua mulher Addolorata e seus filhos: Giovanni, Giuseppe, Raffaele e Verginia.
Gradualmente, foram subindo no navio Cittá Di Milano. Um cargueiro de terceira classe.
Do porto acenavam os parentes: “Sejam felizes!” “Mandem notícias!” Um só que falou pouco e desconfiado: “Mandem uma foto do Castelo para mim! Era o pai de Floriano.
Enfim, a epopeia durou 25 dias, talvez mais que a viagem de Cabral!
Em 10 de agosto daquele ano, o timoneiro gritava: “Terra à vista! Era o Porto de Santos em São Paulo.
Ouvindo aquilo, Floriano falou a família: “O Castelo nos espera!” Já seu irmão, calado, não soltou um “a”!
Os filhos, ainda pequenos, tudo era festa! Nem sabiam o que estava acontecendo! E muito menos o que vinha pela frente.
Bem. Pegaram um trem até São Paulo, passaram algumas semanas na Hospedaria do Imigrante e depois....
“Senhor Floriano e senhor Salvatore! Peguem seus filhos e vamos para o lugar onde vão morar! Disse um agente da hospedaria.
Felizes entraram no trem e foram cantando cantigas da velha Itália à espera da chegada no Castelo prometido.
Após algumas horas o maquinista parou e disse: “Chegamos à terra prometida! Sejam felizes para o bem do Brasil!
Floriano olhou para Salvatore, que olhou para sua mulher e......
Lá estavam num fim de mundo! Uma fazenda de café sem água encanada, luz de vela, e uma vasta plantão de feijão!
Um capanga do fazendeiro os recepcionou e mostrou um barraco de madeira onde iriam morar.
Floriano, irritado, perguntou: “Onde está o Castelo prometido?” O capanga respondeu: Castelo? Só se for na Itália, Suíça em Londres!
Em Tempo: O que parece uma brincadeira foi verdade. Na época o governo de São Paulo sancionou uma lei para trazer estrangeiros para trabalhar na lavoura. Depois espalhou cartazes na Europa para convencer os mais incautos. Assim aconteceu com meu bisavô.