AULAS REMOTAS

O isolamento social estava em João Pessoa. Todos trancafiados em suas casas, esperando por uma solução. Era tudo novo e inesperado. Ninguém estava preparado para isolar-se por inteiro. Crianças foram proibidas de brincarem na praça, no parque ou em algum lugar que fosse fora de casa, idosos não podiam caminhar, ônibus não estavam circulando, um verdadeiro caos.

Recebi a notícia de que a escola em que trabalhava também iria aderir a quarentena, pois o vírus covid-19 havia chegado em nossa cidade. Ficamos em pânico com a notícia, pois além disso, teríamos que dar aulas remotas, ou seja, online. Nossa! Fiquei muito nervosa, como iria dar videoaulas sem ao menos ter sido treinada para isso? E sem contar minha timidez para atrapalhar. Aff!

- Olá! Preparadas? – perguntei as minhas amigas de trabalho.

- Isso é pergunta que se faça? – responderam por unanimidade.

Senti um certo alívio, percebi que não estava sozinha. A mesma aflição elas também estavam sentido.

Os dias se passaram. Fomos convocadas para darmos as primeiras aulas. Inicialmente, eu tremia tanto que os meus lábios pareciam que iriam partir-se ao meio. Não consegui disfarçar. O fato de ficar frente a uma câmera pesava muito. Aconselharam-me ser mais dinâmica e profissional. Algo praticamente impossível para quem estava apavorada.

Agendaram horários para cada professor. Eu fiquei com o último, 17h. De onde eu estava, podia ver as outras professoras saindo da sala reservada para as aulas remotas, com expressões tensas e apreensivas. Nunca imaginei que algum dia algo assim viesse a acontecer comigo.

Pronto, minha vez chegou, fui caminhando bem devagar, como se assim pudesse atrasar o momento pelo qual não queria que chegasse nunca. O calafrio tomou conta de mim, tremia igual vara verde ao vento. O medo maior era o repentino esquecimento ocasionado pela fobia das câmeras. Jamais estive em tal posição. E agora tinha que encará-la.

Ao abrir a porta da salinha, quase tive vertigem. O coordenador olhou-me e pediu para eu ter calma, respirar fundo e confiar, pois, daria certo. O problema era poder controlar tudo isso ao mesmo tempo. Olhava para os slides e pensei, “bem que eles poderiam falar sozinhos”, contudo, teria que ser eu mesma.

O coordenador esperava o meu sinal, para começar a gravar. Quando criei coragem para dar início a um dos momentos mais difíceis da minha vida, tive uma ideia. Decidi que daria aula sentada com os braços para baixo, porque assim disfarçaria o meu tremor. Quando dei o sinal, percebi que se não fosse eu mesma, nada daquilo seria útil, afinal de contas, eu sou ou não professora? E assim consegui, mesmo que sem querer ministrar as aulas no sistema remoto, transformei-me na vlogueira do momento.

Em tempos de pandemia, encarei o medo, descobri que o desconhecido nos assusta, mas é necessário enfrentá-lo para ultrapassar as barreiras.

DÉBORA ORIENTE

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 02/09/2020
Reeditado em 14/02/2024
Código do texto: T7053275
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