FIGURAS IMPAGÁVEIS
No meu local de trabalho - uma espécie de empório daqueles do passado - atrás do balcão vendo coisas inusitadas e recebo fregueses que me contam estórias das mais variadas.
Fiz amizade com aqueles mais assíduos e a todos,assíduos, ou não, os recebo e trato com o mesmo carinho e atenção.
Rola sempre um cafezinho, bolo de laranja e bolachas "da vaquinha", aquelas !
Há quem prefira um palheirinho e os conduzo para seção de fumo em corda com a condição de que "pitem" pra fora do recinto.
Assim, amealhei uma leva de amigos que chegam das colonias de lavradores portando sorrisos afetuosos e, vez e outra, um agradinho colhido em suas plantações.
As manhãs são sempre agitadas e nem sempre sobra espaço para uma conversa mais alongada, porém , no período da tarde, a coisa flui serena e calma e aí rolam os dedos de prosa.
Por volta das 14 horas d e hoje, um calor agradável no derradeiro dia de agosto, uma senhora idosa adentra ao estabelecimento.
Sente-se sufocada e pede-me licença para retirar a máscara.
O pedido veio nestes termos:
-Meu amigo, permita-me retirar esta bosta por uns instantes antes que eu caia mortinha da silva aqui dentro.
O senhor não vai querer "pobrema" com uma defunta fresca, né?
Diante de tamanha sutileza, é claro que permiti a retirada da bosta, perdão, da máscara.
Providenciei-lhe uma cadeira, um copo de água e lhe ajudei a recostar o grande volume de sacolas que carregava.
Acomodada, e depois de alguns abanos, a conversa prosseguiu.
-Gosto de comprar aqui. Hoje vim atrás de sementes. Pepino,melão,melancia,vagem e milho verde.As sementes daqui têm muita qualidade.O "pobrema" é "subir esta subidão".A gente já chega esgualepada feito uma égua em tempo de safra.Riu-se gostoso, eu ri também, e ela teve uma crise de tosse ao ar livre.
Despistei e fui "buscar algo" no outro canto.
Vai que naquela tosse andassem uns coroninhas !
Retornei e lhe servi um cafézinho. Perguntei-lhe se desejava bolo ou bolachas da vaquinha.
Ela olhou para a bandeja e com a mão estendida postou-se feito aquelas crianças que ficam a dizer:"Minha mãe mandou pegar este daquiiii !".
Nas unhas um esmalte vermelho já com algum desgaste e no braço um punhado de pulseirinhas que provocavam um irritante ruído naquele seu período de indecisão.
Optou pelo "bolinho de laranja", segundo suas palavras e teceu elogios ao sabor do café.
-Gosto de café assim, forte e cheiroso ! Detesto quando me servem aqueles xixis de gato.
Como era eu quem havia coado o café, senti-me lisonjeado ainda que não revelasse a assinatura de tão precioso líquido.
Estimulado, me servi por igual de café e bolo e ficamos entabulando uma conversa.
Sentado numa banqueta alta e apoiado ao balcão eu lhe espiava do "andar de cima".
Pediu-me mais uma xícara.Agora com acompanhamento de bolachas da vaquinha.
E o dedo de prosa foi transformando-se numa mãozonha, num braço inteiro de conversa fiada.
-Sabe meu senhor: Agora estou bem calma e descansada.Pronta pra subir o que ainda resta desta desgraça de subida rsrsr...
Eu tenho problema de respiração. Sabia que eu já passei por uma "Alfazema pulmonar ?"
[ Ain ! Deus é testemunha do meu sacrificio pra não soltar uma gargalhada ]
Enfim ! Que bom que curou-se da "Alfazema",pensei com meus botões.
-Bem ! Agora vou pegar a condução. Tem algum espelho por aqui ?
Lhe indiquei um espelho pequeno de que disponho e já lhe fui adiantando:Não é nenhuma Brastemp, mas pode quebrar um galho.
Tudo bem ! Quero só dar uns retoques.
Mirou-se, apanhou um batonzinho e delineou os lábios.
O excesso deslisou pelas bochechas ganhando um tom de vigor pelos sulcos da face.
[ Ficou bonitinha a danada ! ]
Depois, retirou um frasco da bolsa e deu umas borrifadas pelo pescoço.
Gostas de perfume, pelo jeito ? disse-lhe.
-Meu querido,não dispenso umas "orvaiadas" quando saio de casa.
Apanhou o amontado de sacolas e foi subindo a rua.
Da porta eu lhe acompanhei até que o final da ladeira lhe engolisse.
Ficaram resquícios da sua última "orvaiada" , a xícara com sobras de café e, no ambiente, aquela energia forte que dela emanava, apesar de ter passado por uma terrível "Alfazema pulmonar".
Esse cotidiano recheado de figuras cheias de novidades,é algo que à mim não tem preço.
No meu local de trabalho - uma espécie de empório daqueles do passado - atrás do balcão vendo coisas inusitadas e recebo fregueses que me contam estórias das mais variadas.
Fiz amizade com aqueles mais assíduos e a todos,assíduos, ou não, os recebo e trato com o mesmo carinho e atenção.
Rola sempre um cafezinho, bolo de laranja e bolachas "da vaquinha", aquelas !
Há quem prefira um palheirinho e os conduzo para seção de fumo em corda com a condição de que "pitem" pra fora do recinto.
Assim, amealhei uma leva de amigos que chegam das colonias de lavradores portando sorrisos afetuosos e, vez e outra, um agradinho colhido em suas plantações.
As manhãs são sempre agitadas e nem sempre sobra espaço para uma conversa mais alongada, porém , no período da tarde, a coisa flui serena e calma e aí rolam os dedos de prosa.
Por volta das 14 horas d e hoje, um calor agradável no derradeiro dia de agosto, uma senhora idosa adentra ao estabelecimento.
Sente-se sufocada e pede-me licença para retirar a máscara.
O pedido veio nestes termos:
-Meu amigo, permita-me retirar esta bosta por uns instantes antes que eu caia mortinha da silva aqui dentro.
O senhor não vai querer "pobrema" com uma defunta fresca, né?
Diante de tamanha sutileza, é claro que permiti a retirada da bosta, perdão, da máscara.
Providenciei-lhe uma cadeira, um copo de água e lhe ajudei a recostar o grande volume de sacolas que carregava.
Acomodada, e depois de alguns abanos, a conversa prosseguiu.
-Gosto de comprar aqui. Hoje vim atrás de sementes. Pepino,melão,melancia,vagem e milho verde.As sementes daqui têm muita qualidade.O "pobrema" é "subir esta subidão".A gente já chega esgualepada feito uma égua em tempo de safra.Riu-se gostoso, eu ri também, e ela teve uma crise de tosse ao ar livre.
Despistei e fui "buscar algo" no outro canto.
Vai que naquela tosse andassem uns coroninhas !
Retornei e lhe servi um cafézinho. Perguntei-lhe se desejava bolo ou bolachas da vaquinha.
Ela olhou para a bandeja e com a mão estendida postou-se feito aquelas crianças que ficam a dizer:"Minha mãe mandou pegar este daquiiii !".
Nas unhas um esmalte vermelho já com algum desgaste e no braço um punhado de pulseirinhas que provocavam um irritante ruído naquele seu período de indecisão.
Optou pelo "bolinho de laranja", segundo suas palavras e teceu elogios ao sabor do café.
-Gosto de café assim, forte e cheiroso ! Detesto quando me servem aqueles xixis de gato.
Como era eu quem havia coado o café, senti-me lisonjeado ainda que não revelasse a assinatura de tão precioso líquido.
Estimulado, me servi por igual de café e bolo e ficamos entabulando uma conversa.
Sentado numa banqueta alta e apoiado ao balcão eu lhe espiava do "andar de cima".
Pediu-me mais uma xícara.Agora com acompanhamento de bolachas da vaquinha.
E o dedo de prosa foi transformando-se numa mãozonha, num braço inteiro de conversa fiada.
-Sabe meu senhor: Agora estou bem calma e descansada.Pronta pra subir o que ainda resta desta desgraça de subida rsrsr...
Eu tenho problema de respiração. Sabia que eu já passei por uma "Alfazema pulmonar ?"
[ Ain ! Deus é testemunha do meu sacrificio pra não soltar uma gargalhada ]
Enfim ! Que bom que curou-se da "Alfazema",pensei com meus botões.
-Bem ! Agora vou pegar a condução. Tem algum espelho por aqui ?
Lhe indiquei um espelho pequeno de que disponho e já lhe fui adiantando:Não é nenhuma Brastemp, mas pode quebrar um galho.
Tudo bem ! Quero só dar uns retoques.
Mirou-se, apanhou um batonzinho e delineou os lábios.
O excesso deslisou pelas bochechas ganhando um tom de vigor pelos sulcos da face.
[ Ficou bonitinha a danada ! ]
Depois, retirou um frasco da bolsa e deu umas borrifadas pelo pescoço.
Gostas de perfume, pelo jeito ? disse-lhe.
-Meu querido,não dispenso umas "orvaiadas" quando saio de casa.
Apanhou o amontado de sacolas e foi subindo a rua.
Da porta eu lhe acompanhei até que o final da ladeira lhe engolisse.
Ficaram resquícios da sua última "orvaiada" , a xícara com sobras de café e, no ambiente, aquela energia forte que dela emanava, apesar de ter passado por uma terrível "Alfazema pulmonar".
Esse cotidiano recheado de figuras cheias de novidades,é algo que à mim não tem preço.