Sejamos girassóis de janeiro a janeiro.

Chegou setembro, o mês em que as mensagens de apoio e de prevenção ao suicídio são constantes. Do início ao fim do mês, esse é o assunto mais comentado da mídia e do cotidiano. Parece que o mundo inteiro resolve levantar a bandeira da empatia, da paz, do amor e do cuidado com o próximo. De repente, a população se transforma em girassóis. Será que os problemas, a angústia e a depressão só aparecem em setembro? As pessoas só cometem suicídio neste mês? A vida só é importante no mês 9? Não. Todos os dias pessoas se afogam em dores e tiram as suas vidas. A vida é imprescindível o ano inteiro. E nós sabemos disso. No entanto, durante os outros meses, preferimos ser juízes. Julgamos e sentenciamos as pessoas pelo que elas são e sentem. Ficar a par da situação, a fim de não atribuir julgamentos desnecessários, é a última opção. Depois, para não parecer que somos tão selvagens, tentamos oferecer algum tipo de suporte e saímos na defesa do condenado. É até mais cômodo ignorar o problema do (a) amiguinho (a) e dizer que é puro mimimi. Afinal, não diz respeito a nós. Se acontecer de alguém próximo tirar a vida, a gente chora e finge compaixão. Mas já é tarde demais. É inacreditável como a empatia só aflora em setembro. Durante os outros dias, fingimos cegueira, surdez e insensibilidade para não encarar a dor do outro. E são esses descuidos que matam muita gente. É a intolerância, o autoritarismo, a arrogância, o imediatismo, o ódio, a falta de empatia e tantos outros sentimentos e gestos nocivos.  Não adianta querermos ser girassóis, apenas, por um mês, sendo que, nos outros meses, somos ervas daninhas na vida de muita gente. As pessoas não querem o seu dedo apontado, nem o seu olhar torto. O que elas querem são abraços e olhares de aceitação. Precisamos mudar bastante e com urgência. E não é, somente, por conta do "setembro amarelo". Essas mudanças devem ser contínuas. Portanto, abra os seus braços para alguém. Acolha, ouça, converse, seja gentil, todos os dias. Ninguém escolhe viver à mercê do sofrimento. Nós podemos iluminar muitas vidas. Só precisamos manter as luzes do coração acesas e as portas abertas, de janeiro a janeiro.