Frio de Renguear Cusco!

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Assistíamos eu e minha mulher, nestes dias gelados de inverno, aqui na nossa casa da praia, a uma série polonesa no Netflix, chamada "Nas Montanhas da Coruja". Interessante trama, meio complicada, em que ocorriam assassinatos de mulheres de forma sistêmica, todas na beira de um lago e com um tiro certeiro no coração. Durante os capítulos assistidos, não apareceu nenhuma coruja nas montanhas da região, nem sequer menção a ela. Deduzi que a tradução, como sempre aqui em nosso país, nada tem a ver com título original.

O personagem principal, um policial alcoólatra, é transferido por esse fato, da cidade grande para esse vilarejo nas montanhas das corujas, vindo a ser o chefe da polícia local. Sua filha adolescente ficou com pena do pai e o acompanhou - fora deixado pela esposa por causa do vício. Ele parara de beber desde então.

Os capítulos se desenrolam com situações até certo ponto desconexas, tais como: uma comunidade em que um falso clérigo arrebanha as pessoas vendendo água benta com anfetamina que causa alucinações; uma policial que acolhe em sua casa o novo chefe de polícia com a filha e é traída pelo marido com a sua melhor amiga, que viria a ser uma das vítimas assassinadas; um padre atleta substituto que desvenda frases enigmáticas em diários deixados pelo anterior, convenientemente falecido de ataque cardíaco; um empreendimento imobiliário envolvendo o prefeito corrupto junto com empresário inescrupuloso, em local, onde na época da segunda guerra mundial, fora cemitério de presos de guerra e centro de desenvolvimento de tecnologia ultra-avançada dos alemães, instalado em um túnel esculpido na rocha, e nas escavações para a construção do novo imóvel, apareceram ossadas humanas, utensílios militares, armas e projetos de uma nave parecendo um disco voador.

Se não prestar muita atenção, perde-se o fio da meada. Fazem os autores propositalmente assim, para que fiquemos atentos e presos a história e só vir a descobrir quem é o assassino ao final. Lembrou-me dos livros da nossa querida Agatha Christie com seu inesquecível Detetive Poirot.

- Eu acho que o assassino é o policial beato que reza em latim. Ele é muito estranho - digo para minha mulher dando uma de Poirot. Estávamos enrolados em várias cobertas no sofá, pois ventava sul forte e gelado e passava pelas frestas das janelas. Era o "minuano", que como dizem os gaúchos "é frio de renguear cusco! Ou seja, os cachorros (cusco em espanhol) ficam encolhidos, mancam, tremem e se enrodilham em volta do próprio corpo para suportar o intenso frio. Era como estávamos naquela noite: dois "cuscos rengueados".

- É, Fernandinho Poirot? - pergunta ela de brincadeira.

É fã declarada do célebre personagem criado pela escritora inglesa a ponto de assistir aos filmes em seu celular pelo Youtube. Ficou viciada. Também, assim como eu, do antigo seriado Monck que assistíamos na tevê aberta e hoje no canal à cabo. Vemos, às vezes, alguns capítulos desse atrapalhado e sistemático personagem, otimamente caracterizado pelo ator americano Tony Shaloub, que perfeito no papel desvenda o crime deduzindo os fatos de forma intuitiva e lógica. Muito parecido com o personagem de Agatha Christie, Hercule Poirot.

A série das corujas seguia com seus capítulos finais e em cada um chegava-se à solução de alguma das mortes. Por exemplo, a primeira ocorrida há dez anos, fora causada pelo antigo chefe de polícia para vingar a de seu filho, mas matara a mulher errada. As demais vítimas, permaneciam com vários suspeitos.

- Foi o guardinha esquisito que matou as outras duas, tenho certeza. É transtornado e tem algum problema com as mulheres liberais - reitero ao término do antepenúltimo capítulo.

- Vamos assistir ao último então para descobrir quem foi?

Segue o último episódio e o meu palpite era o certo.

-Viu como eu tenho instinto e raciocínio lógico. Acertei de primeira.

-Você é um misto de Monck com Poirot. Quem sabe começa a escrever textos de investigação, hein, seria bem legal, não acha?

-Pois é, quem sabe. Mas prefiro ser só o Fernandinho, nem Monck, nem Poirot. Afinal, são personagens e eu sou real, não é querida?

- Mas às vezes é como um personagem - completa ela rindo e desliga a TV para "renguearmos" mais ainda no sofá por causa do frio, como os cuscos.

Definição obtida no www.dicionarioinformal.com.br

O que quer dizer "frio de renguear cusco"? - Cusco vem do espanhol e quer dizer cachorro. Renguear é um regionalismo gaúcho e significa tremer, mancar. Quando se diz que está "frio de renguear cusco" é um frio tão intenso que os cachorros na rua tremem nas patas, mancam. Também, que é um frio tão intenso que deixa até os cachorrinhos encolhidos. Além do Rio Grande do Sul, a expressão "frio de renguear cusco" é usada popularmente também no Uruguai e na Argentina para representar o que se sente num dia de frio muito intenso.

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Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 02/09/2020
Código do texto: T7052920
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