A literatura brasileira é rica em gêneros textuais literários e identidade. Decerto, perderia dias citando escritores diversos e suas ilustres obras para referendar essa afirmativa.
Mas, com o auxílio da tecnologia, redes sociais e o mínimo de boa vontade, qualquer um pode se valer do “Dr. Google” (que é o pai dos ignorantes dos tempos modernos e especialista em buscas rápidas sem seleção metodológica), para conhecer um pouco mais sobre as formas de apresentação de determinados  textos e a aplicação de estilos como reflexo da expressividade.
Hoje mesmo, ao ler a crônica de um querido amigo, que saiu do livro “Os Três Mosqueteiros” e veio parar no Recanto das Letras, Dartagnan, em que ele cita qual conceito de crônica se encaixa em seu pensamento e revela Ivan Lessa, como um grande produtor literário desse gênero, usando de fatos cotidianos com uma pitada de humor e divertimento, fui resgatar mapas mentais pra ampliar a visão no que tange ao gênero.
Crônica em seu conceito líquido seria um estilo literário com uma narrativa curta, a partir da qual, fatos do cotidiano são mencionados com um olhar crítico, não de análise intelectual, mas sim de contemplação: um olhar além dos olhos.
Geralmente utilizada em canais de imprensa: jornais, revistas, meios de comunicação em geral, a crônica é uma forma de expressar uma opinião ou criticar uma ação/atitude, de forma singular.
Foi assim que Luís Fernando Veríssimo, por exemplo, em primeira pessoa, falou do casamento e suas implicações no dia a dia. Mas foi descrevendo, como quem assiste, ou seja, narrando sem participar que, Clarisse Lispector, falou do tempo, só abarcando a ideia de que embora ele exista e as horas corram, são os sentimentos que o ditam. Carlos Heitor Cony contou a história do menino das meias listradas, que nunca as tirou para esperar a mãe. E assim também, aparece Drummond, um escritor mineiro, que dando uma pitada de lirismo se pegou na observação dos sentimentos, de forma indireta. 
Fato é que, embora a crônica fosse, inicialmente, utilizada em jornais, em especial para comentários esportivos, ela sofreu modificações do tempo e a impressão de um estilo próprio é o grande desafio.
Há quem formalize o gênero fazendo dele um artigo, há quem faça dele uma piada e há quem faça uma espécie de clamor social, como se fosse um apelo, um grito.
Certa feita, perguntei pra professora titular da UFRJ, Alves, se a crônica indireta não seria um conto e logo, seria uma prosa. Ela esclareceu que a distância entre os gêneros é uma linha tênue e que, muitas vezes, a análise é feita por eliminação e não por adesão ao conceito concreto.
Dessa forma, respeitadas as conveniências de um concurso, por exemplo, em que cada um será avaliado conforme um edital, escrever no RL pode não caber num conceito predeterminado e perfeito, como bem disse o Dartagnan, que escreve diariamente no RL, suas distintas crônicas.
É, claro que muitos que estão nesse espaço querem aprender mais, tem pretensões de publicar livros no futuro, mas há outros, que só querem colocar pra fora o que na alma aperta.
Estariam eles errados? Ou estaríamos nós dispostos a apontar o cisco no olho alheio mesmo com trave no nosso?
Há pessoas que fazem disso uma terapia e não um concurso. Que acabaram com a solidão, a depressão, a síndrome do pânico, a ansiedade e há até aqueles que desistiram de um suicídio por perceber que não estavam sozinhos neste mundo atribulado.
Se não gostou, tudo bem! Você tem o direito de discordar. Passa batido, não lê, não comenta. E deslê, se necessário (licença poética). Não se identificou com o estilo? Tudo bem! Gosto de banana e há quem goste de melão, outros limão e, outros ainda, odeiam frutas. 
Não quero, em contrapartida, desmerecer os “letrados” que passaram anos estudando um português tão difícil e exigente, tampouco dizer que não representam com maestria a língua culta brasileira. Reverencio e admiro muitos, alguns deles tive a honra de conhecer (pessoalmente) e bater longos papos, sem as formalidades da escrita.
Num evento com o cronista Inácio de Loyola Brandão, ocorrido na cidade que nasci, Congonhas, tive a honra de compor a equipe que o recepcionou e quando de sua despedida, no dia seguinte, avisou-me que era cronista de um jornal, no qual, publicaria uma crônica sobre a cidade. Dias seguintes, estava lá na banca as 8 da manhã até que: Tem de tudo nos caminhos de Minas... e descreveu a história de um rapaz que usava a bicicleta para fazer propagandas, era uma espécie de bicicleta de som. Cheguei na Secretaria de Educação e fui discutir com a secretaria, minha amiga, que era um conto. Ela simplesmente lembrou que, certa vez, num evento em que estávamos com Leandro Karnal, alguém perguntou a ele sobre Friedrich Nietzsche fumar maconha e ele respondeu: - Ele era o Nietzsche e daí? Se você fumar maconha vai ser só um maconheiro. Resumindo: Ele tem licença poética! Calei minha boca. Era só uma funcionária pública do interior de Minas que nunca escreveu um livro e queria discutir gênero literário. Calcei minha sandália da humildade e comprei livros!
Enfim, só quero externar ao Dartagnan, meu amigo querido, um pai escritor e tantos outros que, por esta escrivaninha passam, o meu sentimento de carinho e cuidado: a sabedoria não está restrita aos dotados de inteligência cognitiva, apenas... E/ou aos que dominam a língua portuguesa de forma ampla e técnica. Nem só de intelectuais gabaritados vive o mundo, aliás aqueles que se colocam à serviço para ensinar, já que dominam, são os melhores: pra eles, medalha de ouro!
Criticar por criticar não deixa ninguém superior, aliás o faz menor. 
E quem dera o problema da língua portuguesa fosse só caber num gênero literário... 

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 02/09/2020
Reeditado em 02/09/2020
Código do texto: T7052792
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