A faca e o queijo
Você tinha a faca e o queijo na mão, como foi que deu errado? Sempre dá errado ou meio certo se quiser ver dessa forma, nunca o prêmio todo, talvez a consolação.
Conformismo, não entendo como uma pessoa tão inconformada como eu pode se conformar tanto com a vida, um fracasso atrás do outro, acho que me acostumei a levar rasteira do mundo e a permanecer no chão.
A frustração é como um soco no estômago, as náuseas acompanham assíduas o carnaval fúnebre, tudo revirado, as tripas do avesso, prestes a vomitar desespero e angústia, a respiração acompanha o ritmo frenético de pensamentos, mas estou viva, ainda.
Após a tempestade vem a calmaria, ou não. A criatura digna de pena chora no canto do quarto enquanto escuta o pai dizer que ela não vale nem o esforço, a mãe tenta amenizar, como daquela vez que mentiu dizendo que o segundo lugar era melhor do que o primeiro quando a filha ganhou medalha de prata na natação, sempre consolando e tentando aconselhar, afinal tudo que a filha escutava eram as palavras cruéis do pai.
Ser uma decepção tem suas regalias, as expectativas ficam um tanto baixas quando se está sempre perdendo e qualquer conquista parece grande, as vitórias parciais têm valor e outro fracasso passa a ser só mais um para a lista.
É cruel me ver desta forma, no entanto, realista, cru. Choro lágrimas de crocodilo, arrependida por não ter feito mais, por não ter sido o suficiente.
A este ponto vivo como cobra, mais maldita do que amada, pecaminosa, meu veneno corrói o meu interior, fui tão controvérsia que perdi as pernas e agora rastejo. Mas a troca de pele inicia, uma nova chance para me desprender dos fracassos do passado, não sei se consigo seguir em frente.