Sous le ciel bleu de Paris...
O sonho do funcionário do Ministério das Relações Exteriores é, antes de morrer, servir em Paris. E depois, se conseguir alcançar essa suprema graça, ser inumado no Père Lachaise, com direito a lápide talhada en français, graça ainda mais excepcional.
Andréia realizou o primeiro, ainda na década dos anos setenta e enquanto aguarda o segundo - sem qualquer pressa, bien-sûr - carrega consigo uma lembrança um tanto pesada, porém mais que prezada, na esperança de a repassar um belo dia a quem de direito: um casaco de peles de ninguém menos do que Clóvis Bornay. E não é imitação, fake, ou pegadinha que vá além da imaginação.
Clóvis, todos sabemos quem foi. Só não foi campeoníssima absoluta
dos desfiles de fantasia dos bailes carnavalescos imorredouros do Muni do
Rio daqueles doirados e inolvidáveis anos cinquenta e sessenta porque foi forçada - noblesse oblige - a compartilhar, ou digamos assim, a alternar essa honraria suprema com a rival e parceira, Evandro de Castro Lima...
n'est-ce pas?
E Paris era também o refúgio - ou refúlgio...? - para essas superestrelas...
com negar?
Andréia não me contou essa história toda, e tampouco precisou mostrar-me o casaco para que eu cresse piamente em sua palavra, quando compartilhamos um ano e meio de vida deleitosa, porém nem um pouco glamourosa em Ottawa, capital do Canadá, na década subsequente à sua passagem por la Cité Lumière.
E o meu sonho de servir em Paris manteve-me insone desde então, mas hoje, irrealizado, transfere-se para a esperança do Lachaise. O céu, certamente, vai esperar.