Nem Artes, Nem Armas
Por Nemilson Vieira (*)
Minas Gerais é o berço das artes, da cultura…
Isso se deve também pelo investimento que os pais fazem. Ao encaminhar os seus filhos nesta direção…
POETISA E MÃE DEDICADA
Uma jovem mãe, após declamar um lindo poema, e interpretar música da sua autoria, recebeu justos aplausos — o auditório se levantou para isso — pela brilhante apresentação.
No Coffee break do evento relaou-me sobre o seu gosto pela arte de escrever, compor, interpretar…
Revelou-me também um fato marcante sobre um filho que não quisera se dedicar a arte musical. — Apesar do seu empenho por ele, a isso.
Matriculou o adolescente, num curso de violão, numa escola de música conceituada em Mateus Leme, onde mora.
No que dependesse dela, num futuro não distante, a cidade ganharia mais um artista de primeira grandeza. — Um instrumentista, cantor, compositor…
Estava otimista com o garoto.
O tempo passava e o jovem continuava a frequentar o curso sem nada dizer…
Como mãe cuidadosa, sempre atenta com o desenvolvimento do filho…
Foi a escola de música saber como ia os estudos, o desempenho do menino.
Conversou diretamente com o professor titular do seu filho.
Procurou saber como o seu rapaz ia nos estudos artísticos.
A SURPRESA
Soube pela boca do mestre que o seu rapaz não levava jeito para coisa…
Foi um choque daqueles! Para aquela pobre mãe…
O professor a revelou, que o seu rapaz manifestava a todo o tempo, imenso desejo de ostentar uma arma de fogo.
Na cintura, nas mãos e de preferência, de um grosso calibre. — Esse era o seu maior prazer e sonho.
A amiga poetisa ouvia tudo calada, ao viajar nessa história…
Chegou a sua vez de falar:
— É assim professor? Foi muito saber. Vou dar um jeito nessa situação. Se ele não pode fazer o meu gosto eu farei o gosto dele.
O rapaz não estava muito longe de completar a maioridade…
Ainda assim o manteve matriculado na escola de música.
MOMENTO CERTO
— Então, meu filho: gosta de arma não é?
Os seus dezoito anos chegaram. Vou trancar a sua matrícula e tirar-lhe das aulas de músicas. — Aquilo não é vida para você.
O colocarei no melhor lugar do mundo: no meio das armas; de todos os calibres e poder de destruição. Dum revólver ao tanque de guerra.
Vou-lhe alistar no Exército Brasileiro. Por lá a sua intimidade com as armas serão tanta que irá conseguir montar e desmontar algumas delas, no escuro. Assim o fez.
DESENCANTO COM AS ARMAS
Como a vida de recruta não é brincadeira…
O filho da poetisa de tanto atirar, tomar soco de fuzil no ombro e carrega-lo de um lado para outro; com fome, frio, calor, dia e noite… Baixou as armas e se entregou.
— Mãe não quero essa vida para mim, nem para ninguém.
Encerrou por aí a sua vontade de mexer com armas.
Deu vontade de desertar do quartel, mas seria pior. Concluiu com muita luta o seu tempo na instituição militar e foi-se…
A poeta Dalva, continuou feliz com o filho do mesmo jeito. Mesmo sem seguir a carreira artística. Nem a militar.
Se tornou homem do bem, e isso basta-lhe; nem artes, nem armas.
Deu baixa das Forças Armadas, mas ainda vive na ativa pelas estradas do seu país a transportar o progresso da Nação Brasileira, em lombos de caminhão.
(06:12:19)
* Nemilson Vieira
Acadêmico Literário