A Entrevista

Semana passada recebi email de recrutador pelo vagas.com pra uma vaga que nem tinha me inscrito e achei estranho.

Era vaga pra "equipe de vendas" e falaram que meu currículo tinha o perfil, continuei achando estranho, mas como bom desempregado confiante de que isso mudaria, decidi ir lá conferir, com meus únicos 15 golpinhos na carteira e 1 trident no bolso (1 mesmo, não 1 pacotinho).

Chegando pra entrevista: "última sala no final do corredor, senhor", segui o corredor, umas 60 pessoas na sala, aí o modo CILADA BINO ativou.

Existia a vaga mesmo, vendedor de imóveis!

Recrutadora falando de vários "benefícios", prêmio por venda, treinamento isso, curso daquilo e eu só pensando: mais de 60 pessoas convocadas pelo VAGAS.COM? Alguma coisa errada não está certa.

Papo vai, papo vem: "treinamento será amanhã e depois, quinta já assina contrato" Minha cabeça continua: mas gente, tem mais de 60 pessoas aqui, ela já tinha falado que outra turma passou por lá mais cedo, já tem meia hora que tá falando e não pediu nenhuma dinâmica absurda até agora, numpodecê!

Até que falou a frase mágica: é uma vaga 100% autônoma pra trabalhar lá naquele lugar muito longe da sua casa Geovanne (mais longe do que o convencional de todos os outros lugares).

Olhei em volta e a galera parecia tá aceitando numa boa, mas eu que nunca fui muito fã de vender porém muito fã de matemática, incorporei a Nazaré Tadesco e:

só de passagem dá quase vintão por dia,

marmitex, se achar dos barato, dezão.

30 conto por dia x +-22 dias trabalhados por mês = 660 conto.

Tá fácil arrumar trabalho não, agora além de pacote office, inglês e intercâmbio, cê tem que ter renda também.

Claro que isso não ia terminar sem o clássico "se você realmente quiser, se esforçar e correr atrás, você consegue!"

"Esse jovem aqui tem 4 meses de empresa, nos dois primeiros meses vendeu X apartamentos, mais de sei lá quantos reais" (som de espanto e euforia na sala com a venda do coleguinha)

Eu pensando: 4 meses de empresa, mas só usou os dois primeiros meses pro exemplo, çey.

Até que rolou um: agora vamos fazer uma pausa, agradeço a presença de todos e sei que não é perfil de todo mundo. Então só fiquem na sala os que se interessarem, vou passar as informações do treinamento, só não se esqueçam de deixar a ficha com seus dados preenchida.

70% da sala levantando, eu guardando minhas coisas e pensei: deixar minha ficha é a forma de saberem que não quis a vaga e já era chances futuras. Guardei minha ficha na mochila também. Meus dados minhas regras. NUNCA NEM VI ESSE PROCESSO SELETIVO. (Isso se chama “deixar as portas abertas")

Ps: Não entregar a ficha com meus dados mas escrever sobre isso não me parece uma boa ideia.

Ainda bem que dividi o trident quando entrei na sala e deixei metade pra hora de voltar pra casa. Teria sido muito desperdício pra um dia só.