Lá estava ela pela terceira vez no dia, diante da estante, imóvel. HISTÓRIA DE UMA MULHER PLANTADA cairia como uma luva! Era o quinto dia que tentava cumprir o compromisso, apesar da dificuldade que tinha em fazer escolhas assim. Não sabendo por onde começar, alimentava sua inércia com um olhar convidativo: - Quem sabe não cai no meu colo? Tarefa árdua dada a ela, no meio de tantos que por sua vida passaram, ter que nominar apenas um: - O QUE HÁ DE ESTRANHO EM MIM? As experiências vividas foram singulares, do primeiro ao último, sem preferidos. Estava escrito? Sim! Era suficiente. E não havia o que contestar, lamentar talvez, umas noites perdidas virando páginas. Era fã de romances! Ficção científica? Preferia os filmes. E nos dramas, chorava cada história como se fosse sua: - Emoção aflorada da peste! Então como escolher um livro perfeito, dentre tantos, para ela que em dias de chuva lia ao menos dois? O garimpado sem nenhuma rasura ou avaria num sebo? Aquele que cabe na última lacuna da estante sem sufocar os demais? O que se encaixa no vazio a ser preenchido de conhecimento? Com o olhar fixou CARTAS PARA UMA MÃE e concluiu que o perfeito era feito mãe: Companhia! Independente de circunstância. Inspirada então, sintonizou no drive Chopin. E foi dançando com os prediletos Rubem Alves, Suassuna, Chico, Adélia e Clarisse Lispector, até que exausta, abraçou VEIA BAILARINA de Inácio de L. Brandão enquanto, por descuido, deixava cair aos seus pés, MOSCA AZUL. Perfeito era o momento, não um livro!
 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 01/09/2020
Reeditado em 02/09/2020
Código do texto: T7051927
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