Quem só vê bunda não pode ver coração

“Meu pensamento é couro deixado ao sol para curtir e nele só podem ser traçadas palavras que deixam um sulco árido de desconforto, um odor nauseabundo que desagrada o olfato, incomoda os narizes sensíveis e inundam de mal-estar os neurônios bem comportados”

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Reverenciar a poesia piauiense de Nogueira Tapety, com o título e introdução acima, é correr risco de pré-julgamento pelos “inhos” de plantão. Ao leitor, apenas peço: não aja como o filosofozinho de boteco – ávido de citar autores -, mais preocupado em aniquilar a primeira vista do que reconhecer a essência de um novo fato. Comportamento semelhante a este só o do velhinho dinossauro de redação ante a impetuosidade do tempo: revoltas e frustrações transformadas em puxa-saquismo político - quem sabe não receba homenagem com nome de ruazinha numa favela da cidade.

Na onda da atual comunicação, tornou-se banalidade fazer apologia a um novo tipo de invocação: Uma espécie de Panteísmo Bundal! Polpudo desde novelas corriqueiras até o besterol dos programas de auditório – excluído de alguns noticiários, já que notícia ruim dá ibope por si só. É como se houvesse um determinismo herdado das atuais bandas de forró e axé music: Sem bunda não há sucesso! Fico a imaginar como seria o programa do Roland Boldrin nessa apelação midiática - que transforma grupos sociais em meros coadjuvantes de consumo - e nego-me a pensar no efeito (não o visual) de Roberto Carlos e suas turbinadas, Caetano “Velhoso” e as dançarinas lapada na rachada...

Nesse ínterim, indago-me se alguém lembra de já ter ouvido, nas ondas da mídia da sua cidade, alguma apologia à poesia de Nogueira Tapety – ou de um outro esquecido poeta do Brasil afora. O que me preocupa, na citação de poetas anônimos, não é o vácuo da resposta, mas as perguntas que rolam nos bastidores da mídia: quem é... Político...? Enquanto isso, no rádio e na Tv, a popularidade do “Bola de Fogo” vai queimando e atolando novos súditos, arregimentando novos tipos de mentes-bombas. Mentes de olhares lascivos, comendo com os olhos as boazudas da TV “como quem lê a National Geographic: vendo o que nunca vão visitar..."

A divulgação da poesia, através dos meios de comunicação, serviria como antídoto ao atual veneno da “atoladinha” e similares. A mídia, picada pela ganância do ibope, poderia usá-lo diariamente. Estariam salvos: ela e seus seguidores. Mas há um problema: nunca vi cobra sendo vacinada!

Não me veja conservador, nem tampouco radical; defendo apenas o meio termo. Alguém Pode reviver o lirismo de Camões, o panteísmo piauiense, o devaneio de românticos desesperados... seguindo na vanguarda criativa - sem fuga ao teor e conceitos passados e sem risco de despencar na vala do lamaçal cultural. Ou seja, a presença feminina nunca é demais, o apelativo é que transborda o vaso – e este pode estar cheio do que menos se espera.

Muitos assíduos por televisão vivem no abismo da falta de boa leitura e boa musica. O estrago não atinge apenas o corpo, aniquila também a alma. Morrer como peixe, de boca aberta, sufocado pelo lixo cultural, é o último presságio que desejo ao mais “inho” dos meus desafetos. E antes que as bundas (nada contra as comedidas) sufoquem a poesia, é sempre bom rever, através de Nogueira Tapety – Primaveril - a manifestação de um dos princípios básicos da vida: a simplicidade da convivência homem-natureza...!

“É tempo de partir para o campo, Maria...

Vamos, que a Natureza em festa nos espera;

E na pompa da luz rebrilha a primavera,

Deslumbrante de sons, de aromas, de alegria...”

O homem é fruto do meio – causa e efeito -, o resto é balela de auto-ajuda e filosofia das religiões imobiliárias. Perenemente, a natureza se manifesta e os deuses nos mostram o ciclo da vida; os poetas assinam embaixo – e quem não foi poeta, e quem não será; mesmo na mais ingênua emanação do eu, sujeita ao clivo da balela dos “donos do saber”. A poesia é manifestação divina no meio – do espírito para o espírito; é a expressão do homem ante um ser superior – o criado tornando-se criador; é o retrato da mãe natureza na sua mais simples ou na mais sofisticada forma de continuidade da vida; é a força do desejo das almas nas suas alcovas...

“Convalesce a floresta, a adusta ramaria,

Que o outono desfolhara, as cores recupera

E a jitirana em flor faz de cada tapera

Uma alcova nupcial perfumada e macia...”

Homem e mulher! Junção que reflete o ápice panteísta do ciclo humano. Mas, atualmente, a figura feminina – exaltada na poesia –, tornou-se (através de programas evasivos e propagandas apelativas) oferenda seminua a um novo deus priápico. É a degradação do ser através do excesso, uma espécie de glorificação bundal, refletindo o reverso da medalha: como se fosse um “feedback” desvirtuado da luta das mulheres por direitos iguais – quando, na realidade, elas querem mesmo é ser diferentes. E o nu apelativo estendeu-se aos homens - usado para vender um simples par de chinelos...

Há um silêncio pactuado, em nome da liberdade de expressão e do lucro, aceitando de bom grado esse jogo televisivo; jogo modista de comportamentos ditos modernos - principalmente sexuais -, usados, muitas vezes, como forma de represália comportamental: adultério, sexo ficante,... A banalização do ser enquanto objeto sexual.

Alguns cults alegam fator cultural para tais procedimentos: A vida vista como ela é. Como se o realismo de Gustave Flaubert tivesse ressuscitado e passasse a direcionar o besterol da mídia moderna. Nessa insinuação, vejo uma grande ameba contaminando cérebros mais lúcidos, enquanto negam a degradação de toda uma geração em favor de um movimento cultural moderno. No meu silêncio de contrapartida e discernimento, isso só vem provar-me que a convivência harmônica - homem e mulher - ainda é essência vital para a vida.

“Vamos... Quando nós dois passarmos nos caminhos

Do côncavo do céu ao côncavo dos ninhos,

Hão de em coro aclamar cada passo que deres.”

Os poetas pecaram cada qual em sua época. Não o pecado exaltado pelo interesse religioso, mas o do excesso de espírito intimista que, deixando de lado - muitas vezes - o clamor social ante aos infortúnios alhures, exaltavam apenas o Eu: o nefelibata, habitante de um mundo entre nuvens. Porém, nada que os desvirtuem e os deixem distante da mulher amada, pois esta não era aclamada por ser apenas “polpuda”, mas pela essência da pureza do seu coração. Simplesmente, Maria!

“Vamos... Tu há e ser, como eu sou, panteísta,

A amar a natureza, a implacável artista,

Que te fez a mais pura e a melhor das mulheres”.

Até mais ler, pelas manifestações da natureza que modificam nossas vidas!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 22/10/2007
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