A mordoma da casa branca
À minha mãe; ao Hospital Samaria e ao Coral LouvArte
Sim, sim, é mordom”a” e não mordom”o”;
Sim, sim, é casa branca e não Casa Branca...
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De branco ela seguiu por 50 anos consecutivos, com a mesma humildade e submissão daquele outro mordomo...
Uma casa branca onde ascendeu, não por indicação, mas por dedicação; não por política, mas por ética; uma ética de outro homem, o homem-Deus que adentrou sua alma em 68.
Uma casa branca onde cada acamado encontrou nela alguém que buscava ter, mais que um corpo são, uma alma mais alva que a neve: uma conversão que por atitudes mais que por palavras ela ilustrou a cada enfermo.
Uma casa branca sofredora, qual uma samaritana desprezada por judeus, mas que com sua pobreza serve aos seus senhores, mas muito mais ao seu Senhor.
Agora já não mais necessita de suas antigas vestes brancas, mas a cada manhã caminha ela, coxa de uma perna, vestida com as cores de suas roupas surradas, levando debaixo do braço a palavra pura, a mais branca e alva das palavras.
Ao som de anjos de sua comunidade, da comunidade de fé que a acolheu; ao som das harmonia vocais com as quais penso que ela com certeza sonha ser recebida nas brancas nuvens do céu, eu, um arrogante filho, a ovelha-negra da família, me prostro aos pés do madeiro onde o Deus-homem venceu toda escuridão, a dela e a minha.
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Sim, a mordoma da casa branca segue ainda em humildade e submissão ao “bendito que na cruz por nós padeceu”, àquele que com suas brancas vestes inspira a ela e aos anjos que com suas vozes são os melhores arautos dessa casa.
04.11.2019