A meia fina
Era julho de 1998. Horário de almoço na Avenida Paulista significava desfile de homens e mulheres, nos mais diversos estilos. Fazia o estilo clássico – era responsável pelo treinamento de funcionários e pela alimentação de dados do sistema de vendas de uma das maiores operadoras de turismo que existiu naquele final de década no Brasil.
Quinta-feira – na segunda já de férias, estaria em um avião para os Estados Unidos, mas no meio da tarde recebo uma ligação informando que deveria ir ao Rio na sexta-feira. Aquela informação disparou todos os meus alertas. Não andávamos em boas relações com o Escritório do Rio. Sabia que teria um dia ruim, e pior, teria um dia a menos para fazer minhas malas, uma vez que só voltaria no sábado. Às 5hs da manhã, coloco meu melhor tailleur – vermelho cereja, scarpin preto, meias finas pretas, maleta de couro e uma frasqueira Pierre Cardin com uma muda de roupa para voltar no sábado e vou para o Aeroporto.
Naquela época a TAM em expansão mantinha uma sala VIP para seus passageiros, onde um pianista tocava belas melodias, havia suco, café, frutas, salgados, etc, etc. Entro no avião, coloco minha frasqueira no guarda-volumes acima da poltrona, pego minhas anotações para ler preocupada com o dia pela frente.
Assim que levantamos voo, vem o café da manhã. Coloco no chão a maleta com os papeis e capricho no café pois não sei a que horas irei comer novamente. Após o café, pego na alça da maleta para pôr no colo, e acontece o desastre! O celular já entrava em moda, e a maleta possuía uma bolsinha externa para guardá-lo. Esta bolsinha tinha um zíper. O zíper tinha um ganchinho. O ganchinho pegou na meia e o buraco estava feito! Um rombo do tamanho de uma laranja na altura do meu joelho esquerdo, na minha cara meia fina preta! O meu joelho tão branco por meses sem sol ficou totalmente à mostra. Pior – havia marcado depilação para o sábado a tarde, pois sendo inverno estava com as pernas peludas. Por isso a meia fina preta.
Pânico! Quem me conhece sabe que raciocino bem sob pressão. Penso imediatamente na meia reserva na frasqueira – sou de capricórnio e jamais viajaria em uma sobressalente! No entanto, vem o aviso de procedimentos de decida. Não posso ir ao banheiro da aeronave! O que fazer? Penso rápido - usarei as alças da maleta para colocá-la no ombro, e levarei a frasqueira à frente do corpo tampando o joelho! Tomada a decisão, fico tranquila novamente.
O avião para no meio da pista – temos que descer e andar alguns metros até a sala de desembarque. Estou na primeira metade da fileira de poltronas, portanto descerei pela porta da frente. Espero que as pessoas tenham descido, levanto e pego minha frasqueira.
Estrategicamente a coloco à frente e vou andando para a escada. Neste momento percebo que cometi um erro. Como todas as pessoas haviam descido, o comissário sobe as escadas correndo e gentilmente me toma a frasqueira! Seguro firme e sorrio – não precisa. Obrigada! Mas ele insiste! E eu insisto! E ele insiste e assim descemos as escadas! Ele na minha frente de costas para os degraus segurando minha bolsa e eu, estoicamente, segurando-a firmemente à frente do joelho! E aqui, novamente, quem me conhece sabe que dou risadas quando fico nervosa! Então, eu ria e ele ria!
Atravessar o saguão do Santos Dumont lotado até o banheiro feminino foi uma arte. Trocar a meia correndo, voltar para o saguão, tomar um taxi e ir para Ipanema ocupou minha atenção e me fez esquecer o avião.
Hoje, tantos anos depois, já não uso mais meias finas, já não trabalho mais com sistemas, não uso mais scarpins, não me importo tanto com aparências tão pouco com caras feias, a vida se tornou mais fácil.
Era julho de 1998. Horário de almoço na Avenida Paulista significava desfile de homens e mulheres, nos mais diversos estilos. Fazia o estilo clássico – era responsável pelo treinamento de funcionários e pela alimentação de dados do sistema de vendas de uma das maiores operadoras de turismo que existiu naquele final de década no Brasil.
Quinta-feira – na segunda já de férias, estaria em um avião para os Estados Unidos, mas no meio da tarde recebo uma ligação informando que deveria ir ao Rio na sexta-feira. Aquela informação disparou todos os meus alertas. Não andávamos em boas relações com o Escritório do Rio. Sabia que teria um dia ruim, e pior, teria um dia a menos para fazer minhas malas, uma vez que só voltaria no sábado. Às 5hs da manhã, coloco meu melhor tailleur – vermelho cereja, scarpin preto, meias finas pretas, maleta de couro e uma frasqueira Pierre Cardin com uma muda de roupa para voltar no sábado e vou para o Aeroporto.
Naquela época a TAM em expansão mantinha uma sala VIP para seus passageiros, onde um pianista tocava belas melodias, havia suco, café, frutas, salgados, etc, etc. Entro no avião, coloco minha frasqueira no guarda-volumes acima da poltrona, pego minhas anotações para ler preocupada com o dia pela frente.
Assim que levantamos voo, vem o café da manhã. Coloco no chão a maleta com os papeis e capricho no café pois não sei a que horas irei comer novamente. Após o café, pego na alça da maleta para pôr no colo, e acontece o desastre! O celular já entrava em moda, e a maleta possuía uma bolsinha externa para guardá-lo. Esta bolsinha tinha um zíper. O zíper tinha um ganchinho. O ganchinho pegou na meia e o buraco estava feito! Um rombo do tamanho de uma laranja na altura do meu joelho esquerdo, na minha cara meia fina preta! O meu joelho tão branco por meses sem sol ficou totalmente à mostra. Pior – havia marcado depilação para o sábado a tarde, pois sendo inverno estava com as pernas peludas. Por isso a meia fina preta.
Pânico! Quem me conhece sabe que raciocino bem sob pressão. Penso imediatamente na meia reserva na frasqueira – sou de capricórnio e jamais viajaria em uma sobressalente! No entanto, vem o aviso de procedimentos de decida. Não posso ir ao banheiro da aeronave! O que fazer? Penso rápido - usarei as alças da maleta para colocá-la no ombro, e levarei a frasqueira à frente do corpo tampando o joelho! Tomada a decisão, fico tranquila novamente.
O avião para no meio da pista – temos que descer e andar alguns metros até a sala de desembarque. Estou na primeira metade da fileira de poltronas, portanto descerei pela porta da frente. Espero que as pessoas tenham descido, levanto e pego minha frasqueira.
Estrategicamente a coloco à frente e vou andando para a escada. Neste momento percebo que cometi um erro. Como todas as pessoas haviam descido, o comissário sobe as escadas correndo e gentilmente me toma a frasqueira! Seguro firme e sorrio – não precisa. Obrigada! Mas ele insiste! E eu insisto! E ele insiste e assim descemos as escadas! Ele na minha frente de costas para os degraus segurando minha bolsa e eu, estoicamente, segurando-a firmemente à frente do joelho! E aqui, novamente, quem me conhece sabe que dou risadas quando fico nervosa! Então, eu ria e ele ria!
Atravessar o saguão do Santos Dumont lotado até o banheiro feminino foi uma arte. Trocar a meia correndo, voltar para o saguão, tomar um taxi e ir para Ipanema ocupou minha atenção e me fez esquecer o avião.
Hoje, tantos anos depois, já não uso mais meias finas, já não trabalho mais com sistemas, não uso mais scarpins, não me importo tanto com aparências tão pouco com caras feias, a vida se tornou mais fácil.