Encontro Casual com Razão de Ser Essencial

Parece que foi de repente que a vida os fez perceberem, quanto de sentimentos e desejos intensos pode existir nas pessoas, mesmo a distância.

Ela ali tão observadora, aspirando motivação para continuar seus planos de realização pessoal, até sonhadora pode-se assim dizer, admirando cada gesto, cada resposta de e-mail, cada sorriso afixado numa foto de perfil.

Ele, sem que ela soubesse, fazia o mesmo do outro lado da tela, e discretamente não deixava escapar a oportunidade de falar-lhe palavras robustecidas de carinho e admiração.

Mas o comportamento levava a crer que era apenas isso, troca de mensagens e uma sutil vontade de estreitar os laços, porém vontade esta que já reclamava o seu espaço, almejando crescer.

Ledo engano, a sensação sentida tinha muito fundamento, talvez mais do que os dois, até então conhecidos, pensavam existir. A amizade nasceu e com ela a relação de afeto e companheirismo, tudo através de ligação ao celular e acesso remoto de aplicativo.

Sabiam já bastante da vida um do outro, conversar durante o dia tornou-se prazeroso e necessário, por horas curiosamente, era sentida saudade, e o que mais importava era estar na presença “virtual” um do outro, que eles preferiam falar em magnetismo de vidas que se cruzaram não por acaso e merecendo cada instante.

Mas como tudo na vida, existem os prós e os contras, desta forma, com eles não foi diferente, e não havia dúvidas que bastante coisa precisava ser dita.

Ela uma jovem mulher em idade de consolidação profissional, batalhando para alcançar seus objetivos, pretensiosa em casar, ter filhos, construir família. Ele, décadas mais velho, já havia conseguido realização em alguns campos, inclusive era casado e tinha filhos.

Mesmo sabendo das particularidades dos dois, foram perseverantes em continuar se relacionando, a parceria das horas, o bate papo saudável e feliz de todo dia, era bálsamo para a vida. A questão é que o coração adora liberdade para sentir, e com o passar do tempo, os devaneios foram surgindo e ocupando espaço.

Quando deram por si, os mimos de casal já existiam, era comum ouvir “meu amor”, “minha querida”, além do tanto de declaração de carinho, de sentimentos, de desejos. Podia-se então falar de “algo mais”, sim, a omissão não era indicada naquela situação.

Ela nem tão contida assim, mas carregava honra, respeito, obediência aos princípios da família. Sentiu-se dividida entre viver o sentimento nítido dentro dela e sofrer somente em supor que estava sendo alguém indesejável e maléfica para um lar que por algum motivo ainda estava erguido.

O homem não tinha uma vida de flores, de amor e união explícitos, era uma relação falida, existindo apenas por conveniência e fatalidades, viviam quase como escoras que se apoiam um no outro mesmo em farpas.

Eis que surge “ela”, uma luz, aquela mulher sorridente, como gotas de esperança que orvalham. E que também calejada pela vida, por mais que aparentasse juventude, era incansável na busca por vencer os obstáculos, uma menina de ouro, estimada e querida.

O fato era que os dois compartilhavam da mesma crença de seres humanos autênticos, de boa índole, e sentir o que estavam sentindo, era tudo que os poderiam tornar desconformes a questão estabelecida.

Cada um tinha convicção das suas missões, do quanto Deus estava presente em seus caminhos, e eles não negavam isso da própria consciência. Ela muito espirituosa e sensata, ele um cavalheiro virtuoso e inteligente, se esforçando ao máximo para fazer dos momentos juntos, um aconchego e alento para ambos.

Certo dia, mais que admiração, transbordou os desejos íntimos de um homem e uma mulher encantados um com o outro, dizer somente que gostava tornou-se pouco, a força daquele querer era sentido a quilômetros de longitude.

Teve um momento que a não permissão por parte deles de realização concreta daquele encontro, resultou em choro, em tristeza, em lamentação. Eles estavam perdidos porque tinham se achado na flecha de um cupido oculto.

Hora então de decidir o que fazer, pois o propósito primordial deles era felicidade, estar bem, fazer bem, fazer feliz. Quando doeu surgiram preocupações, e foram postas ao questionamento as razões.

Ela acordou um dia serena, calma e resolveu conversar, sentiu que necessitava esclarecer. Tudo o que estava sendo vivido era verdade, não havia dúvidas. Se amor, ninguém teria ímpeto e capacidade suficiente para destruir ou apagar, todo o possível ali para aquele encontro era visando abrandar, transformar as labaredas em brasas suaves, constantes e os corações aquecer sem queima-los.

A humanidade deles talvez tivesse se antecipado a realidade e a própria intuição e se firmado, mas sabiam que existem encontros que são divinos, que não irão jamais consumir negativamente, se forem compreendidos e respeitados.

Agora são reconhecidamente amigos, nenhum deles se pressiona ou pressiona o outro para viver enclausurado a uma possibilidade. Sabem que principalmente existe liberdade nos gestos de quem ama de verdade, isso é benfazejo e digno.

Nem sempre o presente vem embrulhado em papel de seda e fita de cetim, cuja dádiva esperada é ovacionada com o brilho, antes de ser recebida e conhecida. Portanto, não se julga as aparências nem as circunstâncias, antes de absorver a essência.

Não se joga ninguém no lixo ou se manda para escanteio num arremesso ingrato e inconsequente, um encontro casual sugere muitas vezes mudar para melhor a vida de cada pessoa, basta calar a voz e o pensamento para ouvir o inaudível inerente ao íntimo.

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 29/08/2020
Reeditado em 29/08/2020
Código do texto: T7049596
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