Uma Pomba Na Câmara do Alípio

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Incrível o que vi naquele dia, numa filmagem televisiva. Uma pomba trocal pousou sobre a câmara de Alípio (cinegrafista) apoiada no seu ombro; no momento de uma filmagem. Vislumbrei esse acontecimento, quando eu ainda assistia TV.

A entrevista aconteceu numa manhã, de uma segunda-feira de Julho; com alguns turistas, na orla de um dos cartões postais de Belo Horizonte (a Lagoa da Pampulha).

Uma encantadora visão, aquela e um instante inesquecível aquele!

Como ex-caçador e sabedor, de ser aquela ave, por natureza, uma das mais arisca que já vi, surpreendi-me muito com aquele comportamento.

Fato que, que, creio desse gesto-animal ter um significado qualquer; que, talvez nem chegue ao entendimento humano.

O exibicionismo da pomba se deu ao vivo, aos olhares de pessoas. A ave equilibrava-se o quanto podia sobre o potente equipamento de filmagem jornalística. — Sem nem pensar em voar, e seguir seu destino. Assim, insistia em estar naquele lugar… que escolheu para pousar, ser vista...

Isso aconteceu justamente no dia do anúncio do tombamento do Complexo Arquitetônico da Lagoa da Pampulha, como Patrimônio Cultural da Humanidade. Que leitura se pode faz dum gesto desse?

Será que essa ave desejava tão-somente compartilhar da alegria dessa boa nova? ou, gostaria de ser simplesmente vista e filmada naquele contexto histórico mundial, único?

Qual o verdadeiro sentido ou, necessidade da sua manifestação naquela entrevista, pousando naquele instrumento, posicionado no ombro do trabalhador em comunicações?

Ou, a beleza, grandeza do seu gesto não significou nada? — Não se sabe, o certo de tudo isso.

De maneira que, esse fato convergiu à atenção para si, das pessoas que se faziam presentes no instante da reportagem e daquelas que assistiam à programação de suas TVs, no conforto de suas casas, como eu.

Sei que, a sua presença ali alindou e muito aquele cenário de rara beleza que se via. Construído pela Administração Pública da década de 1940 — com a mão da Natureza.

Duma maneira especial aquilo nos transmitiu uma mensagem de que é possível haver paz e harmonia do homem com a biodiversidade; mesmo nos espaços habitados e, modificados pelo homem.

O desejo predominante é que, a tão sonhada paz voe a nós e se eternize. Que esteja, ao alcance dos olhos e dentro dos corações de todos nós (homem, e demais viventes), nos espaços naturais e modificados; rurais ou urbanos.

Que a paz não seja apenas flagrada, representada tão-somente nas lentes de uma câmara, por seu símbolo (na forma de pomba). Não apenas vista pelas retinas dos nossos olhos físicos; mas, percebível, aceita e mostrada ao mundo por nossas almas em atividades bondosas. Compartilhada... vislumbrada, oferecida, nos mais variados sentidos da vida...

Sendo vista, rebuscada, perseguida, encontrada e propagada de múltiplas maneiras.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.

(18:07:16)