Imagem do Google








Ilustrando poesia


Os textos longos sempre me entediam, na verdade logo desisto,
digo para os amigos com quem tenho liberdade, gente,
textos longos, estou fora, até tenho vontade de ler,
não consigo, desculpem, a não ser quando é um romance,
um livro que me chame a atenção.
Atualmente estou lendo CEM ANOS DE SOLIDÃO
- Gabriel García Márquez, ganhei de presente de
uma das minhas filhas, (Lídia Louvrier) no dia das mães,
estou lendo aos poucos, já me apeguei a um dos personagens,
porquê sou assim, eu entro na história, durante toda a leitura
chego à me sentar à mesa com eles. Fico me perguntando
o porque das pessoas se entediarem, dizerem que
não sabem mais o que fazer por ficarem dentro de casa  
_ Como assim? Não conheço melhor lugar nesse mundo,
do que ficar em casa, amo demais, poxa vida,
ainda me falta é tempo para fazer todas as coisas
que eu gostaria de fazer. Faço uma coisa aqui, outra ali,
assisto uma temporada, me apego, quando gosto.
Faço um bordado ponto cruz, faço crochê, tudo para uso próprio
ou para dar de presente, desenho, amo desenhar, enfim,
não falta o que fazer.
Cuido das minhas plantas do quintal.
Começando a ilustração das páginas de um certo livro,
e não é que me perco, começo a viajar no desenho, a pensar 
...daí vem a vontade de escrever para depois ler e recordar
o que foi bom, esquecer coisas ruins. É assim...
O desenho eu faço salteando naquele poema,
conto ou poesia que marcou um momento da minha história,
ou uma lembrança de outros tempos, memória visual
ou fantasia, dessas histórias criadas com final feliz, ou não.
Esse desenho em especial, está sobre a mesa,
riscado em preto e branco,  de colorido nele,
só a flor de aparência viçosa e cor muito viva, flor de cacto,
dando vida ao cenário de seca, um toque de doçura
ao amargor local, no pasto seco, quatro vacas magras,
espalhadas no lugar, uma delas, o chocalho 
com o aspecto de ser pesado demais para a fragilidade
do seu pescoço, coitada da vaquinha, por perto,
um menino de calção, sem camisa, descalço, sentado
à frente da casa de taipa, com um peão na mão direita,
a casa sem cercas, no terreiro o cacto antigo,
e gigante, passando dos telhados quebrados da casa,
mais adiante, um mandacarú com longos espinhos,
ao lado dele, uma árvore ressecada que
estranhamente sobreviveu, aqui acolá uma folha seca
nela grudada, lembrando que ela está resistente
às intempéries do clima. É o conteúdo do desenho...
Barrancos, já a poeira não tinha como desenhar, mas um sol
esturricando tudo, à revelia, esboçado, está,
mais três aves vindo de longe sobrevoavando o campo
sem esperança. E... Por horas ela ficou sentada
à sua janela, contemplava lá fora, e desenhava
o retrato da seca... Foi ao passado, visitou à seca
de mil novecentos e cinquenta e oito, cresceu
ouvindo os seus pais relatando sobre a calamidade
que abateu o seu estado, aliás, o NOrdeste todo.
Às vezes guardamos algumas falsas lembranças da infância
onde não sabemos ao certo se foi realidade ou sonho,
nessa confusão é preciso consultar as raízes 
...Cada traço do desenho, uma viagem no tempo sim,
resgatando as vivências do seu povo,
que mais parece um pesadelo daqueles que nem se precisa
forçar a memória, para ter de volta tudo aquilo,
tantas lembranças. Cada momento vai chegando na mente,
nos sentimos como se estivéssemos passado junto com eles,
é quando penso nas conversas do meu avô Mestre Marcolino,
e da minha avó De Lourdes, paramos no tempo,
pegamos um tamborete para nos sentarmos à frente
da imensidão de chão dos pensamentos e ouvir as suas histórias
como os primeiros moradores do local, em época tão difícil,
e não tinha essa de que era uma vez, não.
Não era conto, mas a vida de cada um que
sem acesso à mínima civilização, conseguiram crescer.
Não dava para fugir da sensação de realização
por um dia muito distante, ter sido parte daquele lugar
mesmo que de passagem nas férias, de infância,
e carregar tanta coisa boa, a alma às vezes desenha
por onde ela quer voltar, não basta ir, ela precisa
olhar cada detalhe bucólico, para memorizar...
Agora, vou desenhar o pilão socando o arroz,
o alpendre cercando a casa grande, que ainda está lá,
mais adiante a prensa de caldo de cana, o meu avô
com um canivete pequeno, descascando a tangerina
para misturar no caldo de cana de acúcar, acolá as colméias,
a cabana da farinhada, os moradores que para ele trabalhavam,
a mesa enorme, com vários acentos, o fogão à lenha,
os panelões de comida, as risadas, a simplicidade, ah vida!
Como é maravilhoso recordar, hoje estamos assim,
com mundo totalmente novo, eu fiquei lá parada na serra,
no tempo, não, não quero voltar.
Sim, o texto foi longo, sei que ninguém vai ler, mas não deu
nem para começar à escrever, tudo o que eu tenho para dizer.
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 28/08/2020
Reeditado em 30/08/2020
Código do texto: T7048665
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.