Escolas fechadas e vidas preservadas
Surpreendeu-me de forma bem intensa, tive pesadelos ao dormir, pensando nos mestres, principalmente naqueles que são dos grupos de risco, nos funcionários que irão ter o trabalho dobrado, nos alunos e a adaptação aos tais protocolos de higiene em pleno inverno gaúcho. A educação nunca foi relevante para os governantes: um estado em que os professores e funcionários estaduais recebem parcelados em migalhas espalhadas no decorrer dos meses por longos anos, também possuem escolas em estado de penúria com janelas e portas quebradas, com biblioteca sem livros atualizados ou sem livros mesmo,com falta de funcionários e professores. Como esse mesmo estado hipócrita pode prometer protocolos de higiene e cuidados para o retorno às aulas, se, normalmente, não tem nem materiais de limpeza suficiente para todos os alunos da escola? Eu considero uma atitude de insanidade dos nossos governantes pensar nessa volta às salas de aulas com a pandemia numa curva em ascendência e logo com as crianças menores, que em regra geral,são assintomáticas, assim seriam transmissoras para os professores, funcionários e as suas próprias famílias. Mas aqui não estão em questão quem deve regressar, sim, a não volta às aulas. O retorno nesse momento crucial, sem medicação ou uma vacina que nos previna contra o Coronavírus, principalmente na estação em que há predomínio do frio e da chuva, torna-se irrealizável se quisermos preservar vidas. Parece que existe todo um investimento em EPIs como termos de compras de termômetros, máscaras, álcool em gel e tal, como tudo funcionaria? Teríamos funcionários para testar a temperatura dos alunos na entrada das escolas formando longas filas ou seria dentro das salas de aulas com o professor? Imaginem a situação, enquanto o profe confere as temperaturas de alguns, o que aconteceria com os outros alunos, estariam brincando e rolando pela sala e o espaço de afastamento de um metro acabaria? Quem pondera sobre regressar às aulas não conhece bem a pratica de funcionamento de uma escola, pois de outro modo não conceberia essa ideia. Creio que são os burocratas da educação, aqueles nunca passaram mais de um dia numa escola ou somente as visitaram em dias festivos como tudo organizado à custa da comunidade escolar. O ideal seria melhorar a vida dos professores e alunos em termos de tecnologias e continuarmos assim. Entretanto quem sou para saber o que parece ideal ou certo nessa quarentena, isso é somente uma reflexão de revolta pelos meus colegas de uma professora de 30 anos de sala de aula, aposentada desde fevereiro de 2020?
Marisa Piedras
Professora Pública
Mestre em Letras