O Meu Cachorro Fumaça

Por Nemilson Vieira (*)

Cedo na vida tomei gosto por caçadas, naquele tempo isso não era proibido por força de Lei.

Final dos anos sessenta com meus 9 a 10 anos, em São Raimundo do Doca Bezerra (MA), comecei a dar meus primeiros tiros com uma espingarda porveira de carregar pela boca.

Meu irmão mais velho era o professor nessa matéria e levou-me para “faxear” numa capoeira de uns 4 anos, pela primeira vez.

— É feito uma picada sob a mata, remove-se as folhagens e fica-se a andar na mesma, num sentido e noutro. Essa caçada geralmente é realizada à noite; onde o caçador munido de uma espingarda, lanterna num pisca-alerta aguarda a caça atravessar o caminho. 

Naquela noite não tivemos sucesso esperado; não levamos o alimento silvestre para casa.

As caçadas com cães eram também interessantes e divertidas… Alguns deles se destacavam na habilidade; os mais novos aprendiam com os mais experientes.

Numa destas, capturamos um filhote de cachorro do mato. Nem sei como isso fora possível, visto que o risco de o mesmo ter sido devorado pelos cães fora grande.

Acho que eu nem estive nessa caçada, os adultos que tiveram afirmavam ser um cachorro do mato. Acabou sendo levado para a nossa casa.

Cor de cinza, ele; por isso o chamo de Fumaça.

O bicho era uma fofura, o nosso xodó.

Vivia a pular num e noutro, só queria brincar o tempo todo. Uma energia, uma vontade de viver...

Tomava leite na mamadeira e com o tempo começou a comer de tudo…

Até seu reinado desmoronar de vez: quando Já grandinho mostrou a que veio. As galinhas lá de casa começaram a sumirem do terreiro. A mãe, o pai, todos preocupados com o submisso das aves.

Naquele tempo não havia ladrão pelo mundo que nem hoje. Como é que essas galinhas vão sumindo assim?

Meu pai era um bom investigador das coisas; aprendera isso no ofício de subdelegado.

Um dia o flagroucom uma enorme galinha na boca. Aí o mundo desabou por cima de nós.

Meu pai com um porrete de todo tamanho nas mãos. Sem um ‘pingo’ de misericórdia o perseguia com muita raiva.

A verbalizar: “Nunca criei uma raposa na minha vida e não vai ser esta que irei cria-la.”

Fiquei desolado pelos cantos! A temer o pior, que logo veio: com a cassetada na moleira do bicho.

Por um lado o pai tinha razão: Fumaça era mesmo uma raposa.

*Nemilson Vieira de Morais,

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário

(14:02:18)