A verdade é que pensamos no futuro como se fosse uma ciência exata do destino. Projetos na mão e operários em plena obra. Durante a execução, algumas alterações são inevitáveis. Há, contudo, uma responsabilidade com o projeto inicial. Mas nem sempre esse viés é possível...
Recém saída do ensino medio, lá estava cheia de indefinições e inseguranças. O grande problema da educação no Brasil é que prepara as pessoas para ter um título e não para sê-lo.
Desde cedo, nos é imposta a obrigatoriedade de escolhermos o que queremos ser, como função profissional a ser almejada. Tanto que os pais insistem em manter acesa, a chama da provocação, desde a primeira infância: “Quando você crescer, o que você vai ser? Crescer é carregar a pesada cruz que lhe ajudará a atravessar o rio, sem ponte. Mas e daí se não der para atravessar o rio? Nele me jogo?
A ideia da inutilidade não é saudável, mas o contrário é tão nocivo quanto. Alimentar a expectativa dos que acreditam em nossa potencial/capacidade de ser ou ter uma profissão que receba como legado à valorização pessoal e o respeito sócio-cultural.
É tão sacrificante que muitos estudantes perdem a vida inteira tentando se encontrar naquilo que criaram para o “bem dele”, se encaixar no rótulo bem sucedido. Como se uma profissão de status desse ao seu detentor, poder e sucesso para sempre. É tipo: você aceita se casar comigo (o sucesso) até que a morte nos separe?
No primeiro ano da faculdade de direito tinha uma amiga que mais parecia irmã, gerada noutro ventre. Melhores lembranças tenho das aulas “cabuladas” aos sábados, para irmos à Capela, com a finalidade única de rezarmos (diante do Santíssimo Sacramento) por nossas desilusões amorosas. Lembro-me de um amor platônico vivido por ela, no qual, a única pessoa que acreditava nele, era ela. E era tão crente que resolveu enviar uma mensagem de celular pro sogro. É claro que foi vista como a louca da camisa de força que mora perto de Barbacena: como pode alguém avisar ao sogro que seria sua nora, mas antes, o mesmo deveria alertá-lo? O menino desapareceu do inglês, do futebol no colégio e da nossa vida. Aqueles olhos verdes a traíram...
Mas foi também ela, a responsável pela minha crônica. Nunca gostou de direito, mas queria ficar próxima do pai, alcoólatra e da mãe, vítima de um AVC hemorrágico que paralisou todo o lado esquerdo do corpo. O irmão se deu bem! Estudou na Federal e abusando da língua inglesa, conseguiu um lugar ao sol, bem pertinho de Barack Obama. Ela, queria pouco, ou quase nada. Não sonhava com posses, não pensava na OAB em fim de curso e nem queria pisar na calçada da fama com um tubinho preto fatal. Mas era um sonho dos pais, irmão e família. Seguiu! Formou-se. No intervalo passou no concurso mais concorrido da prefeitura da região e se acomodou na cadeira pública. Tentou algumas vezes a prova da ordem até desistir dessa tal propriedade.
O pai, morreu no último ano, vítima de uma câncer invasivo no intestino que o levou em menos de seis meses. A mãe foi para o exterior e ela ficou. E agora, com o tempo livre pra pensar, não deu conta! Fluoxetina e Rivotril embalam suas noites traiçoeiras, assentadas numa rede de mútua ajuda com psiquiatra, psicólogo e médico. E entre as suas muitas dores de cabeça está a maior delas: não ter tido coragem de ser quem era ou de viver o que queria (pelas circunstâncias).
Frustrações à parte, luta por dia, uma espécie de lema aproveitado dos Alcoólatras Anônimos: por hoje não! Só que, até quando?
Recém saída do ensino medio, lá estava cheia de indefinições e inseguranças. O grande problema da educação no Brasil é que prepara as pessoas para ter um título e não para sê-lo.
Desde cedo, nos é imposta a obrigatoriedade de escolhermos o que queremos ser, como função profissional a ser almejada. Tanto que os pais insistem em manter acesa, a chama da provocação, desde a primeira infância: “Quando você crescer, o que você vai ser? Crescer é carregar a pesada cruz que lhe ajudará a atravessar o rio, sem ponte. Mas e daí se não der para atravessar o rio? Nele me jogo?
A ideia da inutilidade não é saudável, mas o contrário é tão nocivo quanto. Alimentar a expectativa dos que acreditam em nossa potencial/capacidade de ser ou ter uma profissão que receba como legado à valorização pessoal e o respeito sócio-cultural.
É tão sacrificante que muitos estudantes perdem a vida inteira tentando se encontrar naquilo que criaram para o “bem dele”, se encaixar no rótulo bem sucedido. Como se uma profissão de status desse ao seu detentor, poder e sucesso para sempre. É tipo: você aceita se casar comigo (o sucesso) até que a morte nos separe?
No primeiro ano da faculdade de direito tinha uma amiga que mais parecia irmã, gerada noutro ventre. Melhores lembranças tenho das aulas “cabuladas” aos sábados, para irmos à Capela, com a finalidade única de rezarmos (diante do Santíssimo Sacramento) por nossas desilusões amorosas. Lembro-me de um amor platônico vivido por ela, no qual, a única pessoa que acreditava nele, era ela. E era tão crente que resolveu enviar uma mensagem de celular pro sogro. É claro que foi vista como a louca da camisa de força que mora perto de Barbacena: como pode alguém avisar ao sogro que seria sua nora, mas antes, o mesmo deveria alertá-lo? O menino desapareceu do inglês, do futebol no colégio e da nossa vida. Aqueles olhos verdes a traíram...
Mas foi também ela, a responsável pela minha crônica. Nunca gostou de direito, mas queria ficar próxima do pai, alcoólatra e da mãe, vítima de um AVC hemorrágico que paralisou todo o lado esquerdo do corpo. O irmão se deu bem! Estudou na Federal e abusando da língua inglesa, conseguiu um lugar ao sol, bem pertinho de Barack Obama. Ela, queria pouco, ou quase nada. Não sonhava com posses, não pensava na OAB em fim de curso e nem queria pisar na calçada da fama com um tubinho preto fatal. Mas era um sonho dos pais, irmão e família. Seguiu! Formou-se. No intervalo passou no concurso mais concorrido da prefeitura da região e se acomodou na cadeira pública. Tentou algumas vezes a prova da ordem até desistir dessa tal propriedade.
O pai, morreu no último ano, vítima de uma câncer invasivo no intestino que o levou em menos de seis meses. A mãe foi para o exterior e ela ficou. E agora, com o tempo livre pra pensar, não deu conta! Fluoxetina e Rivotril embalam suas noites traiçoeiras, assentadas numa rede de mútua ajuda com psiquiatra, psicólogo e médico. E entre as suas muitas dores de cabeça está a maior delas: não ter tido coragem de ser quem era ou de viver o que queria (pelas circunstâncias).
Frustrações à parte, luta por dia, uma espécie de lema aproveitado dos Alcoólatras Anônimos: por hoje não! Só que, até quando?