Aprendizado
Final de semana chegando.
Sexta é dia de comprar frutas e verduras na van que estaciona quase na porta de minha casa.
Tudo fresco, tudo gostoso. O melhor aipim do mundo, aquele que se dissolve na boca. Disputadíssimo, é o primeiro a acabar.
Na última terça fiquei enrolando e só desci após as 7 da manhã.
Ao sair do prédio vislumbrei os dois últimos pacotes. Apressei o passo, olhos fixos no alvo. Eis que um carro estaciona ao lado da van e do banco do carona a mascarada exige:
- Quero os dois pacotes de aipim!
A quarentena me ensina, a cada dia, a inutilidade de adiar os pequenos prazeres. Assim...
- Por favor, deixe um pra mim! Só desci pra isso!
Silêncio. Dentro do carro, confabulam. Só pelo ato de coragem eu já estava feliz.
A vendedora, já um pouco impaciente, pois os clientes começam a aumentar:
- A senhora vai querer os dois?
Silêncio.
- Vai?
- Eu ia, mas como ela também quer...
Agradeci do jeito escandaloso que adoto quando estou muito feliz.
Aipim garantido, parto para o manjericão enorme e cheiroso que transforma meus tomates numa salada de sonho.
Quarentena, tempo de aprendizado.