História com usuários

Usuário. Tipo de usuário. Perfil. Ismirno.

Perto de um computador fico analfabeto porque ele tudo tem e eu nada tenho. Meu caso é o de um sujeito que numa festa, conheceu uma linda namorada, velha, boa e louca. Vejam vocês. Ao contrário de mandar um simples cartão ou flores, lhe deu um computador novinho de aniversário.

“Anotem aí. Frase um: o sistema inconsistente – bip - corrigido em dois segundos. Aperte em dois segundos a tecla três. Ok?” Na verdade aquilo pouco lhe interessava. Havia poucos segundos para interpretação. O que é isso? Aviso? Não sou jogador.

Novo perfil. Sou usuário sem astúcia. Sem dissimulação ou duplicidade. Sou apenas usuário Ismirno. Aquele perdido em meio ao grande sistema. Como um homem só e a multidão de bits. Não me confundirei com todas as maldades. Avatar R. Primeiro. Ganhei! Explicava com dificuldade. Os homens depositaram a caixa ali e como inteligível lição foram embora. Havia um traço de enigma em toda a coisa. Um dos presentes mais caros de minha vida de Ismirno. Pediram para rubricar a nota fiscal de pagamento, depois foram embora. Após o barulho debandado surtiu o silêncio das escadas. Na mesma escada a voz roufenha do entregador quebrou o gelo sussurrando.

- Cara de sorte. Ganhou um computador de aniversário! È! Respondeu vazio. Devíamos ter avisado sobre o sistema operacional... Aquilo pega tudo? Tem até Internet.

Foi meu ouvido de coruja quem ouviu tudo. Ouvido de Ismirno coruja.

Pela rua nesse tempo perguntavam uns aos outros. Vozes de gente desocupada.

- Já pega internet aqui?

- Não pega não.

Santo Deus! O que fazer? No fundo estava cheio de orgulho como um veranista num belo dia de sol. Coloquei a caixa diante do sofá e fiquei observando o presente. Sem vontade de romper os limites de papelão. Por simplicidade virtual sonhei com a velha amiga querida e seus agradecimentos. Ora se um computador equivale a dez milhões de bibliotecas! Como Suzana havia lhe dito de Guilhermino, sobre mudanças e o impacto em bibliotecas. Sim. Era usuário de outros meios de difusão. Nesse tempo não havia computador na rua Curió, nem na cidade inteira.

Agradeceu pelo telefone. Fez juras de amor e recebeu juras de amor.

Ligou enfim a máquina para brincar com mistérios multifuncionais e ser pioneiro. Não devia ser perigoso. Do contrário levaria estampada uma tarja na caixa com aviso: máquina para especialistas! O convite é de vá fundo! Algo de uso fácil não pode levar tanta legislação. De resto estranhava a quantidade de senhas que teve de acumular em sua distração crescente, além da frase estranha que dizia: leia o que está escrito ao lado para ver se você é humano, quando se sabia ridículo e limitado. Um dia resolveu vender, mas percebeu que o modelo estava completamente acabado. Depois não saberia vender sem explicar onde algo podia estar estragado. Não era um técnico. Guardou para sempre no armário o objeto. Envergonhado de ter querido vender um presente muito estimado. Fosse um piano jogaria no mar.

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Todos os textos publicados aqui são de minha própria autoria. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. O Autor.