Os Gêmeos da Casa Lotérica
Por Nemilson Vieira (*)
Estive no lançamento de duas obras literárias: “Momentos no Papel”, do Prof. Mauro José de Moraes e “Menino Descalço” do Vladimir A. Silva.
Se deu no segundo piso do Café Cine Brasil, Praça Sete — capital mineira, em Dezembro de 2015.
Uma chuva temporã deu o ar da graça e acalmava-me.
Antes de chegar ao evento, numa fila lotérica interrompi a leitura num parágrafo qualquer.
Olhei para meu lado esquerdo e visualizei no balcão de uma loja, anexa, dois jovens senhores em compras...
Cabelos e barbas bem aparados, portavam óculos de lentes escuras. Vestiam-se elegantemente, impecáveis ternos pretos e camisas brancas, gravatas vermelhas com finas listras pretas em diagonal, sapatos pretos similares ao cromo-alemão; formosos à vista, os homens.
Me pus a imaginar...
“Como pode alguém se parecerem tanto dessa maneira?”
Perfeitamente iguais em tudo…
O sorriso, os gestuais, seus trejeitos se davam num sincronismo impressionante!
Pasmado com aquilo continuei lá, estático, a observar a tamanha semelhança dos rapazes.
Como a opinião ou visão de duas pessoas é melhor…
Inquieto com o que via, disse a uma jovem senhora que estava atrás de mim, que, também os observava:
— Nunca vi na minha vida tamanha semelhança! Olha aqueles jovens para você ver!
A mulher olhou para mim com um ar de espanto e deboche:
— O quê! Onde o senhor bebeu dessas?
Não a respondi pela minha surpresa com a sua reação.
Nos entreolhamos surpresos...
Ela sem entender o que se passava comigo e eu a achar não haver nada de errado no meu pensar…
Percebi sua inquietação até explicar-me:
— O que está a ver ao lado daquele moço, não é o irmão dele e sim o reflexo do próprio.
— Há um enorme espelho do seu lado, você não viu?
Assim mesmo desajeitado, sem chão respondi: — Não, senhora!
Aí pensei: "tenho vivido, mas tenho sofrido".
Aquilo que vemos pode não ser o que realmente nos parece.
Nem sempre as imagens que chegam à nossas retinas correspondem à realidade nua e crua.
O ângulo que olhamos as coisas e os elementos que as contextualizam podem facilitar ou impossibilitar, uma melhor análise daquilo que observamos.
Só paguei tamanho 'mico' por não prestar melhor assunto naquilo que vislumbrei.
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.
(27:12:15)