O catador de grãos de areia

Todos os dias ele caminhava pela orla marítima observando o ir e vir da maré. Metódico, fazia o mesmo percurso ao pôr do sol. Mesmo quando o astro se encontrava sob nuvens ou sob chuva. Os moradores do vilarejo marcavam as horas quando ele saía e retornava.

Sempre se sentava de frente ao mar em meditação. Depois retornava à cabana. Momento de abrir o bornal e despejar num tampo de vidro os grãos que catara durante a caminhada. Pacientemente selecionava os que considerava mais lapidados pelo tempo e os colocava numa gaveta, envoltos em papel crepom. Os excluídos devolvia à praia, para continuarem seus processos de burilamento pelas intempéries. Em seguida deitava-se na rede da varanda e ouvia o som da natureza. Vivia, portanto, em estado permanente de contemplação.

Contra a sua vontade tornara-se personagem do vilarejo. O proprietário da única pousada, percebendo a oportunidade de atrair turistas, divulgou nas redes sociais: "além de nossas belas paisagens, venham conhecer o nosso catador de grãos de areia".

Assim o vilarejo tornou-se uma atração turística