BOA NOITE, NÃO?

A emoção é um ratinho dentro de mim. Eu acho que, agorinha mesmo, vi o seu longo rabo. Como tenho em casa dois gatinhos apalermados, ele, jovialmente lépido, transita no quarto como um forasteiro alter ego, incômodo e insolente, fugidio como toda e qualquer emoção. Bem, chegou a hora de ir direto para a cama, já que até agora estava na internet, computando ainda fora da casinha do bom sono. A barra do dia é um véu de maresia sobre o horizonte e clama pelo mavioso silêncio de palavra, sob iníquos atos e fatos tediosos em solitude de corpo e símbolos – de todas as falanges e traquinagens. A mansuetude da solidão corporal, ainda assim, em sua inércia, escreve um poema desalmado, cego, porém com tátil agilidade. Até que o ratinho (ainda adentrado em mim) decida o que fazer com a invenção, a farsa, a fantasia e os sonhos, que após a noite finda, remetem ao amor de ontem. Bom descanso aos gatos e ratinhos sem retardo. Agora mesmo é que estou sem sono.

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

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