Mentiras Têm Pernas Curtas
Por Nemilson Vieira (*)
Na pequena cidade de Estrela, naqueles dias, só se falava no jogo mais aguardado do ano.
Anúncios não faltavam, sobre a partida de futebol da Associação Desportiva Estrelense (ADE) com o Guarani de Divinópolis. — Hoje equipe profissional.
Grande clássico do futebol amador previsto a acontecer num domingo. — Em Divinópolis.
Essas competições arrastavam multidões de apaixonados pelo exporte aos campos de terra do lugar e região.
Dia chegado, grande parte da população, de uma cidade e outra, se fez presente ao evento; num apoio massivo.
Vencidos os noventa minutos da partida, o (ADE) ganha de 02 × 01.
Graças a boa atuação do ponta-direita o Jair que marcou o gol dessa Vitória.
Não foi um placar elástico, na verdade. O que deu o tom e a beleza da festa foi o brilhantismo dos atletas estrelenses.
O Jair encheu os olhos até da torcida adversária, com os seus dribles desconcertantes.
Após o jogo houve uma confraternização.
As moças do lugar só queriam ficar juntas ao Jair no maior frenesi.
Vistoso, boa facilidade de se expressar, cheio das ideias… Deixava à mulherada eufórica.
Se sentia um homem feliz naquele cenário de alegria. Se pudesse ficar com todas elas…
Ana caiu nos encantos do Jair, a moça achava nem merecer tanto, aquele rapaz maravilhoso.
Na sua apresentação pessoal revelou ser um homem de posses na cidade de Estrela.
Proprietário da Casa de Shows e Bar Avenida, — um dos espaços mais badalados da sua Cidade; que morava com os pais numa casa toda de vidro.
Ela, linda de viver, bem situada na cidade, oriunda da classe média, uma boa candidata.
Naquele dia viveram bons momentos juntos que se eternizaram.
Regressou à sua cidade e levou consigo a viva esperança de um dia viver num paraíso com a Ana; felizes para sempre — como os contos de fadas.
A sua pretendente acreditava piamente em tudo o que ouvira do Jair. — Quanto à sua história de vida e os seus planos.
Até que um dia resolveu visitá-lo para matar a saudade, conhecer melhor o rapaz e os seus familiares. Dar continuidade ao seu romance.
Já na cidade do namorado dirigiu-se à Casa de Shows e Bar Avenida; citada por ele como sua.
Na porta do estabelecimento avistou um senhor e pediu-lhe uma informação sobre o Jair. Se o bar era realmente dele…
— O bar é meu, senhorita e o seu Jair mora com a mãe bem mais à frente, no final dessa mesma rua.
O homem ainda pediu às duas vizinhas que o acompanhasse até a casa de Dona Alvina.
A Ana seguiu pela rua já com uma pulga atrás das orelhas: chateada com a descoberta da primeira mentira do namorado.
O Jair vivia a prometer à mãe os tijolos e outros materiais necessários, para a construção de uma casa melhor. — Moravam no mesmo rancho de sapé há muitos anos.
— Olá Dona Alvina!
Sou a Ana de Divinópolis, namorada do seu filho o Jair; gostaria de falar com ele.
— Minha fia, ele tá na olaria a botar barro na pipa…
— Tá bom D. Alvina! Por favor, como faremos para chegar até lá?
— Sigam nesse trilho aí adiante que desce pro brejo, logo à frente.
O Jair amassava o barro com os pés, de cabeça baixa, a suar frio sob o sol.
Ao levantar as vistas estavam diante dele: Ana Maria, de carne e osso, e as filhas do seu Afrânio. — Velhas conhecidas.
Sem chão para pisar olhava para o nada…
Todas elas corriam os olhos discretamente à sua bunda pelo rasgo da calça, que ia do gavião ao cós.
As moças tentavam esconder os seus risos impossíveis. — Não conseguiam.
O Jair torcia as cadeiras para um lado e outro. Tentava esconder as vergonhas. — Não adiantava mais.
A sua namorada não se deteve muito nesse detalhe e fora direto no que lhe interessava: passar um sabão no sujeito e desaparecer de volta.
O Jair estático atolado no barro recebeu logo a sua lição de moral:
— Olha para mim! Por que não foi sincero comigo? Nada do que me disse é verdade…
Eu a viver no engano como boba; nesse relacionamento sem futuro.
Se me tivesse dito desde o início que trabalhava nesse serviço, que não possuía nada na vida ficaria mais bonito. — Não seria nenhum demérito da sua parte e nem problemas para mim.
Gosto de uma pessoa não pelo que ela possui materialmente; mas pelo caráter.
Se falasse a verdade iria-lhe amar do mesmo jeito, mas já que é um mentiroso…
Se eu me casar contigo, irá enganar-me pelo resto da vida.
O Jair calado estava e calado ficou.
Depois do desabafo, a Ana sem mais palavras se retirou sem sequer dizer adeus.
*Nemilson Vieira,
Acadêmico Literário
Nem1000son@gmail.com