O Seu Dedé e João Puaia
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Cavalgava João Puaia em sua velha égua num trote seco... ia à cidade buscar saúde aos filhos.
Na farmácia do seu Dedé, o cumprimentou e logo falou da sua necessidade:
— Vim cá, seu Dedé, por causa duma perrenguice dos meninos lá em casa. Apareceu uma tosse-seca, um catarro-preso que não sai nem com reza.
O mal passou de um para o outro e alcançou a todos.
Remédio do mato a mulher não dá mais às crianças. Acha que não adianta, pelo pouco resultado.
Tenho medo disso evoluir para algo pior… Doença só nos pega desprevenido. Somente o senhor poderá-me socorrer dessa epidemia doida.
Se me arrumar os medicamentos pode ficar sossegado, é sair o primeiro dinheiro e corro a lhe pagar.
Acostumado a negociar, a levar calotes o velho comerciante não abria mão das suas mercadorias daquela maneira.
Mas, pelos relatos de João Puaia, seu Dedé percebeu o tamanho do problema daquele pai de família e, sensibilizou-se muito.
A situação financeira do homem já não era boa e o quadro de saúde das suas crianças devia ser mesmo preocupante.
O comerciante mostrou ar de preocupado. Viu o seu coração derreter como cera no fogo diante daquela situação…
Resolveu efetuar atransação comercial da forma proposta. — A sua compaixão excedeu o medo de uma possível perda.
Depois de passado bom tempo do negócio, sem ver o tal freguês, sem uma satisfação sobre a dívida, seu Dedé deve ter pensado no pior: João Puaia não lhe pagar.
Seguiu-se as cobranças…
Uma, duas, três… Nada do pagamento do remédio.
Sempre havia uma desculpa esfarrapada preparada por João Puaia para uma próxima oportunidade.
Certo dia: mais desculpas…
Desta vez seu João Puaia ainda tentou esboçar a marcação de uma nova data para a quitação da dívida. Seu Dedé atalhou a prosa do início, sem querer mais ouvir explicações alguma:
— O senhor já me pagou, seu João não me deve mais nada, não se lembra?
— Não me lembro de ter pago essa conta. Já que o senhor tem certeza vou acreditar nas suas palavras.
— Fique tranquilo! O Senhor não me deve mais.
— Bem, quer dizer… Sendo assim! Vou pelo que o senhor diz… é aquilo que eu sempre digo: a melhor coisa do mundo é negociar com gente boa, direita. Se o senhor não fosse honesto seu Dedé, eu ia pagar essa conta duas vezes.
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.