23h23min

Às vezes me sinto hipócrita em falar sobre desigualdade ou criticar os playboys. No fundo eu sou um cara que nunca precisou lutar muito por nada (não financeiramente) e que acabou lendo livros demais, enlouquecendo demais, ganhando as ruas, amando as pessoas e descobrindo que aquilo não estava certo. Minha alegria estava concentrada demais em mim, enquanto outras pessoas tinham muito menos. Descobri isso cedo.

Meu melhor amigo passou a ser o filho do caseiro que trabalhava em minha casa na época, e eu passei a achar os meus amigos de salvador – com exceção de um ou dois - um bando de imbecis.

Crianças imbecis regadas a Nitendos e salgadinhos da Elma Chips e mães que não saíam pra trabalhar e ficavam o dia inteiro andando de short pela casa, entregando suas “merendas” em bandejas e dando gritos em empregadas e babás. Eu mal tive empregadas e babás. Meus irmãos e eu infernizávamos suas vidas até serem demitidas. A casa era nossa… O do meio controlava a TV. Eu controlava a vitrola e revistinhas. O mais velho? Mal aparecia em casa… Então acredito que havia nele algum controle sobre as ruas.

(H.B)

**************************************************
25 de agosto de 2020

23h51min

Tenho uma memória nítida em minha cabeça. Eu andava por essas areias até chegar num lugar em frente às barracas de praia. Uma vendedora de picolé vinha andando. Meio gordinha, mas forte… de short curto, masculina, pernas musculosas. Usava um boné eu acho... De longe uns caras jogavam futebol… a velha e boa “pelada” de praia. O sol estava forte e naquela época eu GOSTAVA do sol (eu tinha uns 13 anos). Alguém chutou com força e a bola foi parar pertinho dela. Alguém gritou o seu nome (todos a conheciam) e ela deu um CHUTASSO cheio de pose daquelas que só vemos na TV os jogadores profissionais fazendo. A bola ganhou altitude e caiu quase no pé do cara que pediu por ela. Foi bonito…

Depois alguém virou pra mim (acho que reparou em minha cara impressionada) e disse: “FULANA foi jogadora profissional! Jogou no feminino do BAHIA.”. Ou foi do Vitória, não lembro e não importa. O que importa pra mim é ter visto como uma ex-jogadora terminava na vida. E ainda cedo, adolescente, poder comparar com os EX-JOGADORES, quando “terminam”.

Exatamente naquela época tínhamos um ex-jogador do Vitória como vizinho de rua. Enfatizando: EX-jogador… assim como ela, que vendia picolé. Ele trazia a família em vários ônibus pra casa imensa e esbanjava churrascos, festas e riqueza. Não sei no que deu um… não sei no que deu o outro.

E não vou fingir que me importo também… não sou feminista. E acho que o melhor que posso fazer pelas mulheres é não achar porra nenhuma delas. Não criticar… e nem me meter pra aplaudir… O que elas querem é equidade. E eu acho tudo uma merda, então eu vou ser o mesmo chato com elas e com eles, pois acho esse mundo uma boa bosta adoecida merecedora de um bom Lexotan nos reservatórios de água. Jamais me verão levantando uma bandeira.

Enfim, apenas divagando (de mau humor com dor de cabeça). Filosofando na madruga, escrevendo e olhando pro céu… vendo discos voadores.

É só o que sei.

(H.B)