DESALENTO
Inquietude do vazio, supremo deus que arrastou em seu fascínio, como uma dama de sua corte obscura:- a certeza de um lago de nadas, onde
mergulhei o repouso, dolorosamente.
A amargura de saber inúteis os momentos de irreal felicidade, tudo isso
faz-me flanar nas asas negras que atendem ao chamado de um bastão
mágico e invisível.
O pesar que sinto é baseado, é forjado, tão sómente, na certeza de sa-
ber que piso em falso, por caminhos largos e fáceis demasiado para mim.
E dizer que se eu pudesse acreditar nos sentimentos, mesmo que fôsse
num só, aquele ao qual chamam amor, poderia sentí-lo ... e ser feliz.
A descrença nasceu e agigantou-se no peito porém o bem maior que eu
mesma, esconde-me a beleza e leva-me a um auge de crueldade.
Crueldade que nada mais é que o reflexo do que posso distinguir nítida-
mente, neste período, pequeno estágio que faço nesta vida.
A pureza, tendo sido maculada em seu real valor - o espiritual - dissol-
veu-se na bruma densa do "não crer". E, pergunto eu, embora sabendo
que não terei resposta, se vale a pena fingir e continuar nesta existência,
depois de tanto caminhar sem esperança?
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 24/08/20