O Amor é Lindo
 
Leitores, ontem eu lhes falei que a Simone faz live todo domingo às dezoito horas no Instagram. E é certo que eu vou estar em casa assistindo,  não me chamem para lugar nenhum porque eu gosto muito da Cigarra e não perco suas lives. Mas não foi sempre assim.

Quando eu nasci, Simone já era uma estrela da MPB. Cresci ouvindo suas músicas-temas de novelas mas não reparava nela. O álbum de Natal era certo na casa da tia Mariquinha, com quem eu morei por uns tempos. Centro da cidade? Vixe! Em meio àqueles enfeites chamativos, Papai Noel no meio da canela, anão fantasiado de duende e menino lambendo vitrine, o 'Então é Natal' tocava a torto e a direito. Natal sem Simone não rola. 

Pois muito que bem; em 2016, a Cigarra veio fazer um show aqui em Fortaleza, aquele cuja entrada custava apenas um real. Como os ingressos esgotaram em segundos e um conhecido meu do Maranhão estava aqui e gostava dela, escrevi um e-mail ao seu empresário, o Deco, pedindo cortesias, no que fui atendida com muita prontidão e simpatia. Acontece que no dia do show o fresco do meu conhecido nem deu as caras e eu, como não tinha nada para fazer, fui. O nome da turnê era "É Melhor Ser", que também é título do mais recente álbum da cantora.
Apois; peguei o Parangaba Aeroporto e fui para o teatro RioMar. Gente, um luxo. Que lugar bonito. E eu lá, em meio aos casais, sozinha, toda desconfiada. Então apagaram-se as luzes, os músicos começaram e apareceu aquela mulher lindíssima, alta, toda de branco, parecia uma dríade. Fiquei de queixo caído. Quando ela soltou a voz, aí eu apaixonei:

"Começar de novo
e contar comigo
vai valer a pena
ter amanhecido..."

E foi um espetáculo de beleza e talento pra ninguém botar defeito. Cantei junto as que eu conhecia, 'Iolanda', 'Acreditar', pense num repertório. Ao final, e eu não sabia, ela tem por hábito distribuir rosas brancas. Eu estava a umas quatro fileiras do palco, ela jogava as rosas e as fãs pegavam todas, nenhumazinha para mim. Então ela me viu e eu a vi. Pense naquele momento mágico que a gente sempre solta um "ai" antes de contar. Ela me olhou, calculou a distância e jogou uma rosa para mim. Cesta de três pontos. Até teve quem quisesse pegar a minha flor mas não, "sai pra lá, sapatão. Essa é minha.", pensei, toda sorridente. E guardei tudo em casa, meu pequeno tesouro. Custódio? Que Custódio? Minha paixão era a Simone.  O amor da minha vida, minha alma gêmea. Estava tão apaixonada que fui a Brasília decretadinha para vê-la, falar-lhe do meu sentimento, levei uma longa carta de amor e um livro de presente. Na minha cabeça, ela ia olhar para mim, me reconhecer e se apaixonar por mim também. Para vocês verem o tamanho da minha autoestima mas, vejam só, leitores, ela não recebeu. Fiquei lá, ao pé do palco, estendendo o presente e ela nem tchum.
Oh, rapaz. Pra que. Fiquei tão triste, envergonhada e decepcionada! Baixou a Maysa, meu mundo caiu. De repente, a vida perdeu o brilho. A minha amiga Vânia sacou que o meu interesse não era de fã e até me aconselhou a casar com o Custódio e ter uns filhotes. Mas aí eu já estava péssima, odiando Brasília, voltei para o Ceará com o coração em pedaços. Joguei fora a rosa, tão murcha quanto eu. E jurei nunca mais ir a um show da Simone. 

Então ela voltou a Fortaleza, em novembro do ano passado. Pensam que eu fui? 
Claro que sim! Bem pertinho, jogando beijo, fazendo coração e gritando "Te amo, Simone!" Dessa vez eu quase consegui falar com ela mas paralisei quando a vi, não saí do canto. Quem sabe na próxima, não é, Cigarra? Mas foi muito bom, até guardei outra prenda, uma lantejoula que caiu da roupa dela. Em nenhum momento me arrependi de minha viagem a Brasília. Eu estava em busca do que eu acreditava, embora fosse uma ilusão. Como diz o Roberto, "se chorei ou se sorri..."
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 24/08/2020
Reeditado em 24/08/2020
Código do texto: T7044872
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