GOSTOSA NOVIDADE

O caminho Campestre/Divisinha eu conhecia como ninguém. Sabia onde estava cada pedra, cada buraco na trilha. De vez em quando deixava em alguma pedra, um pedaço do dedão, ou levava alguma queda por pisar em algum buraco. Eventuais surpresas ficavam por conta de alguma jararaca, cascavel e outras existentes por ali, que resolviam se mostrar, cruzando ou ficando nos caminhos. As siriemas não eram surpresa, elas estavam sempre por lá, parece que faziam questão de mostrar a nossa impotência em relação a elas, uma leve corridinha ou breve voo, a gente ficava na distância.

Da Divisinha/Barra, eu também conhecia muito bem o caminho, novidade naquele dia foi o trecho à esquerda da Barra, depois da casa grande da beira do Rio até os “Valérios”, naquele tempo, uma picada para carros de boi e trilhas nas pastagens.

O rapaz talvez fosse ou talvez seja um meu parente distante, morávamos perto mas a nossa amizade não era dali da vizinhança. Éramos colegas de classe no colégio. Ele deveria ter uns quatorze anos, eu não mais que dez.

Ele me convidou para ajuda-lo a conduzir uns carneiros, de Campestre até lá nos Valérios. Tocar carneiros, uma aventura nova, topei na hora. Não sei se é correto chamar de rebanho para umas cinquenta ou sessenta cabeças.

Imagino que eu tenha me sentido com grande responsabilidade naquele dia, responsabilidade nenhuma, no pensamento de agora. Penso que nenhum daqueles bichos se perdeu naquela caminhada, lembro-me que foi muito divertido, sobretudo, naquele pedaço de caminho que me era desconhecido.

Quando terminamos de passar por uma mata e saímos em pasto aberto, a fantástica paisagem ao longe até hoje se reprisa na minha recordação. Um casal de tucanos barulhentos sobrevoou há uns dez metros sobre minha cabeça. Eu nunca tinha visto um. Naquele tempo todo mundo tinha espingarda e qualquer coisa era caça, os bichos sabiam disso.

A ida foi de fato bem divertida, eu bem me recordo. Recordo também da casa onde deixamos os carneiros e almoçamos. Só não me esqueci completamente da volta e o caminho que percorremos, pois me ficou gravado ter sentado para descansar em um barranco, antes de entrar na cava funda, depois da ponte do rio, antes de dobrar para a Divisinha.

Acho carneiro um bicho simpático, não gosto da carne, talvez tenha alguma coisa a ver com essa “viagem”.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 23/08/2020
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