Síndrome da Migalha

Quero antes de mais nada, dizer que essa crônica foi escrita no improviso, para dar tempo de refinar as ideias, enquanto concebia cada frase.

De tanto que ouvi falar e perceber a embrulhada que este fato causa, resolvi explanar sobre a síndrome da migalha.

Não bastando a vida toda ouvir "um tantinho daqui", "um tiquinho dali" e ainda terem denegrido o ditado "o pouco com Deus é muito e muito sem Deus é nada", hoje toda ajuda oferecida vai para rede social, como "prova de amor ao próximo", mas será isso mesmo?

Minha gente onde estamos? As vezes o mantimento não alcança nem a mão de quem precisa porque quem diz ser doador, está focado na self ou transmissão ao vivo, e o necessitado tem que agachar no chão para pegar a "famosa ajuda".

Fico pensando quem engana e quem é enganado nesse episódio... Tantos especialistas em atualidade e a má fé não conseguiu ainda ser banida da sociedade, parecendo marca de nascença de tão impregnada.

Não seria coitadismo invertido o que estamos a presenciar? Sim, porque pessoas que se dizem privilegiadas, poder aquisitivo alto, estão apelando para o cidadão anônimo que vive na sua luta diária de sobrevivência, e esse sem sequer pensar em mandar cartinha para merecer atenção, agora se tornou ilustração nas mídias.

Voltando ao ditado "o pouco com Deus é muito e muito sem Deus é nada", a origem dele, reflete que o Senhor é alimento para alma, e que por menor que seja o que possuimos na face da terra, será suficiente se tivermos fé. Agora falsificar o gesto de doação, de boa ação usando a vida de pessoas em estado de calamidade para benefício próprio, aí já passa de sacrilégio.

Vejo a hora ser aberto shopping estampado de grifes de caridade, quem sabe isso até já exista. Seria o cúmulo da vergonha, mas nada improvável, pois o que se vê é uma quebra de braços horrível para estar em evidência que não iguala nada, só diverge, destaca e distancia.

Está ultrapassado chamar comunidade de favela, chamar o amigo de "meu preto", o carente de pobre... E porque não é condenada a mal conduta, ser prepotente, egoísta, ambicioso, manipulador? Só acho que tem mais pergunta sem resposta, do que gente inconsequente convencendo ser honesto e altruísta.

Quer saber? O jeito que tem é apoiar as pessoas a conhecerem os seus direitos, porque pouco ou muito ainda os têm. Se fosse para apostar como solução em defesa dos menos favorecidos, gastaria todas minhas fichas em conhecimento, educação global.

Sim, um ser humano para ser digno não precisa de terno e gravata, nem comer de talheres ou possuir milhões, mas essencialmente, ele deve saber discernir o benéfico do maléfico, ele deve saber decidir por si sem que ninguém o intimide ou subestime, e é na compreensão que se encontra os ensinamentos para existir com dignidade e reconhecimento de valor.

Ser dono se si é ter boa escuta e o direito de fazer escolhas, acredito ser justo e decente ensinar aos cidadãos carentes, caminharem com seus pés sem se sujeitarem as asneiras e delinquência de uma parcela vil de pobres de alma, que só conhecem o brilho pago ou seifado de alguém.

Um doador de verdade busca a felicidade do outro num riso espontâneo, no silêncio de uma criança que se cala após ser alimentada, num corpo que aquecido por cobertores esgota o frio que lhe dói a alma ou oferece apenas um abraço que a muitos falta. Quem doa se doa, e extrai o melhor da sua essência para compartilha-lo, doar-se é a extensão do amor sentido partilhado. Esse por último descrito sim, merece toda gratidão, e de Deus acolhimento para que essa fonte nunca acabe, e a semente do bem prevaleça brotando e crescendo, sendo esta inconfundível.

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 23/08/2020
Reeditado em 23/08/2020
Código do texto: T7043799
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