Ser mulher no Brasil?
Confesso que esta semana foi muito pesada... Me fez pensar em várias situações e me fazer vários questionamentos. Dentre estes, o que é ser mulher no Brasil?
Dados do Ministério da Saúde afirmam que no Brasil a cada 4 minutos uma mulher é agredida por um homem.
Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH),
A violência contra as mulheres cresceu durante a pandemia quase 40% em relação ao mesmo periodo de 2019.
Recentemente foi noticiado de forma estrondosa que uma menina de 10 anos foi violentada psicologicamente e fisicamente por seus familiares, pela mídia, pela sociedade...
E pensar que não foi e nem será a última a passar por esta atrocidade. Ainda mais se julgarmos pela reação das pessoas com este fato...
Triste, lamentável, cruel e desumano... Mas dolorosamente real e corriqueiro. Se acentua mais nas classes menos abastadas mas este tipo violência está presente em muitas casas, independente de classe social.
Pensando o que é ser mulher no Brasil?
Reflito em minhas condições :Trabalho desde os 16 anos; me sustento financeiramente; sou relativamente livre para fazer minhas escolhas, casei quando bem entendi; engravidar foi uma escolha e continuar casada também...Tenho nível superior, ganho mais do que alguns homens...
E isso quer dizer o quê? Apenas que sou exceção; que não sou a maioria; que não estou imune ao preconceito ... Que nem por isso vou fechar os olhos para desigualdade de gênero... Que houve avanços mas que ainda é considerado perigoso ser mulher no Brasil, que a falta de respeito ainda continua...Que o preconceito se materealiza desde a extrema violência contra a integridade física das mulheres até às simples piadinhas " inocentes".
Muitas das vezes por termos nível superior, uma profissão ou independência financeira não significa que estejamos livres das diversas formas de violência no nosso cotidiano .
Sabe por quê? Porque o preconceito reside no simples fato de termos nascidas mulheres.
Reside também na cultura enraizada nas entranhas da nossa sociedade... Não só dos homens como também das próprias mulheres. Sofremos a discriminação mas também a praticamos. Está presente na própria forma como nossas emoções afetam nossas percepções. "A outra não sou eu"; " Essas meninas de hoje nao são TÃO inocentizinhas"; "Engravidou porque foi irresponsável"; "Mas era mulher da vida..." "Também com este batom vermelho?" " Ela era muito atrevida! " " Não acredito que ela deixou os filhos morarem com o pai?"
"Reclama que é assediada, mas sai na rua vestida de forma promíscua."
Enfim, a mulher que ousa não querer mais, a fazer suas próprias escolhas, a quebrar os padrões muitas das vezes são taxadas e rotuladas...
A pergunta torna a martelar em minha cabeça : O que é ser mulher no Brasil?
Hoje assisti um filme argentino( bem que poderia ser uma família brasileira) na Netflix chamado " Crimes de familia" que retrata muito este contexto. É uma crítica social sobre a realidade complexa do ser feminino enquanto mãe e humano entremeado por injustiça, violência e desigualdade.
Chega a doer a alma a violência contra as mulheres!
Talvez o meu relato esteja confuso...Mas é assim que estou me sentindo hoje...
O que é ser mulher no Brasil?
É fazer parte de um pais que tem um triste ranking . De acordo com o mapa da violência, o Brasil é o 5º país mais violento do mundo para as mulheres.
Não dá pra ser feliz enquanto assistimos está barbariade ! Agora entendi melhor o significado de " Mexeu com uma, mexeu com todas!"
Não dá pra fechar os olhos para esta realidade. É questão de sobrevivência!
O que é mesmo ser mulher aqui no Brasil? É não desistir...É acreditar que com luta podemos mudar este quadro...É avançar, é continuar quebrando limites, barreiras ...Mas também é não se esquecer e nem ser insensível para esta problemática: Políticas públicas deficientes e estatísticas cruéis escancaram um país omisso com a vida de suas mulheres.
Me lembrei de uma expressão sul africana: Ubuntu - que traduzido" quer dizer "Sou o que sou pelo que nós somos”.
Hoje, neste sábado frio e chuvoso me sinto pesada, triste...Mas ao mesmo tempo cada vez mais consciente da necessidade da solidariedade, da cooperação, do respeito, do acolhimento, da generosidade, entre muitas outras ações necessárias para sermos instrumentos de mudanças, buscando o nosso bem-estar e o de todos à nossa volta.
Não podemos nos omitir...
" Mexeu com uma, mexeu com todas!
Ps: Parabéns para os homens que não contribuíram para que fôssemos um El Salvador , Colômbia , Guatemala e Rússia ( Ranking de assassinatos de mulheres noticiado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos (ACNUDH).)