Armas, para que te quero?
Está liberado. Pode até o limite de quatro, talkey? Você ainda não escolheu o calibre? Apresse-se. Vamos, venha se arma você também! Depois a gente sai por aí, armados, e mal-intencionados temerão cidadãos de bem, e não vice-versa, talkey?
— Mas o que está liberado não é só o posse?
— Não se importe com isso; é só um detalhe. Somos muitos, e agora, armados, seremos ainda mais. Você entende? Venha, vamos dar uma volta; arme-se e municie-se. Vamos vir se o trânsito continua lento...
Essa dupla fictícia pode muito bem ser real, está dando um rolê pela Avenida Monsenhor Clóvis e, diante de engarrafamento, descer do carro, de armas às mãos, e, à bala, ''desafogar'' o engarrafamento. Também pode ocorrer de irem a uma lanchonete, fazerem pedido e, se este demorar, vier diferente do esperado ou congênere, ignorar o Procon; resolverem as "pendências'' ali mesmo e sem demora...
Depois pode ser que saia na mídia notícia desses episódios, em nota de rodapé, tratando-os como ''normais'', e destacando na capa vitória da seleção canarinho. Pode ser que, como o senso comum indica, o número de paranoicos no Brasil aumente. Pode ser que algum desses paranoicos pergunte-se para que se armar. Em reposta tantos outros paranoicos lhe responderão: "Para o seu bem; para o bem da Pátria; para diminuir a criminalidade; para controlar som de vizinhos; para diminuir fila de Banco; para desafogar o trânsito; para nos matarmos, uns aos outros, civilizadamente".
Em sinal de louvor e aprovação, três tiros serão dados ao alto, mas sem causar mortes nem feridos, e estará encerrada a sessão.