A JANELA DA VIDA
Quantas reflexões fazemos no decorrer da nossa vida!
Quantas paisagens passam pelos nossos olhos, através da janela da vida...
Lembrei-me agora de um fato engraçado quando falei em paisagem. Aqui em casa eu sempre dirijo mais depressa. Meu marido sempre vai mais devagar, ele gosta de apreciar a paisagem, e nunca tem pressa.
Então quando minha filha era pequena, um dia eu a ouvi falando com uma amiguinha: "quando vou com minha mãe para a escola, eu não consigo ver a paisagem. Mas quando vou com meu pai, eu vejo cada arvore, cada esquilinho (risos).
Voltando nas paisagens...
Todos os dias vemos tantas coisas diferentes, que quase não notamos. Que a correria não nos deixa perceber.
Essa semana sai de bicicleta pela primeira vez, desde o verão do ano passado. E quando passei por uma pracinha, vi um velho que o ano passado estava sempre ali, andando devagar, e depois sentava no banco.
Por um instante senti-me feliz em saber que ele estava vivo. E nem ao menos o conheço. Mas apenas uma antagonia à vida.
Tantas paisagens desaparecem de nossos olhos, tantas pessoas que vemos, e não temos a certeza que iremos vê-las outra vez...não é assim a vida?
Um dia desses estava estudando uma reação que tenho, que não sei se e normal ao ser humano. Ou seja, não digo normal, mas não sei se e algo que todo ser humano sente. Vocês podem me dizer.
A sensação que tenho de levar um tombo, leva-me diretamente a infância. A dependência. Talvez a primeira coisa que venha na minha cabeça seja minha mãe. Porque a mãe sempre esta ali para amparar o filho.
Uma impotência diante de algo que não temos controle. Fico no chão, com uma cara de "coitada" (risos), e com uma fragilidade que desconheço em mim.
Há anos atras fui consertar meu carro, e fiquei esperando no lobby. Havia uma porta de vidro na frente, e sentei-me bem perto, peguei uma revista. De repente eu olhei para fora, e vi uma senhora, rastejando em direção a porta, toda ensanguentada. Eu, que sou uma patife de primeira categoria, levantei-me, abri a porta, e a mulher me disse: "me ajude!". A cabeça dela estava aberta perto da testa. Todos que estavam na sala ficaram sentados - digo todos. Impressionante como o americano tem medo de se envolver nessas coisas.
A mulher deitou, e fui no banheiro pegar umas toalhas de papel, embebi em agua e fui limpar o sangue de sua testa.
O dono da Agencia chamou o 911 (o máximo que um americano pode fazer numa hora dessas, sinceramente). Não estou generalizando. Sei que que existem pessoas diferentes. Mas a mulher, frágil, estava ali deitada e todos olhando-a como se ela estivesse contaminada.
Ela me pedia para limpar o sangue dos olhos dela, não podia enxergar. Fiquei ali, limpando, e pensando na fragilidade do ser humano, quando isso acontece. E a mesma fragilidade que sentimos ao estar num leito de Hospital. Com aquele camisolão, o que somos mais do que "um ser humano", sem vaidades, sem diferença social?
A mulher me disse que seu filho estava lá dentro, deixando o carro dele. Fui chama-lo. A coisa mais engraçada quando ele chegou. Olhou a mãe deitada, (nem se abaixou) e disse: "Mãe, o que você fez?" Como se a mãe tivesse sido culpada de ter caído. Ela havia escorregado.
Chegou o 911 (serviço realmente espetacular nos Estados Unidos!) e num instantinho ela já estava acomodada e medicada prontinha para ir ao Hospital. Depois disso, um policial me chamou perguntando quem poderia ser testemunha. Todo mundo sumiu. Dei minha carteira de motorista e respondi as perguntas dele. Naquela mulher eu me enxerguei.
E se fosse eu que estivesse ali deitada? Alguém me ajudaria?
Outro sentimento que estava lembrando hoje.
A reação de cortar o dedo. Perceberam como todos viram meio crianças quando cortam um dedo? Outro dia meu marido na cozinha cortando uma cebola, de repente virou-se para mim: "Cortei o dedo!".. Me olhou com uma expressão que havia cortado um braço! (risos).
- Onde tem band-aid?? Fiquei olhando para ele, que segurava o dedo, olhando no sangue que saia. Naquele momento o enxerguei-o assim como um menino de 7 anos de idade... Por que essa sensação que temos nessas pequenas coisas que nos acontecem, que nos fazem voltar a infância?
Janela da vida...
Assim passam-se situações diante de nossos olhos todos os dias. Como se estivéssemos viajando num trem. As paisagens se apresentam rápidas ou lentas diante de nossos olhos. E vamos a acompanhá-las, como se estivéssemos bebendo a paisagem, assimilando as coisas importantes.
Nessa minha volta de bicicleta, vi as mesmas flores nascendo, no jardim das mesmas casas... Vi brinquedos de crianças que o ano passado estavam no jardim. Vi os mesmos cachorros latindo quando passo (risos)...
O menino brincando no Parquinho (que sempre cruzo) como cresceu! Era pequenininho e agora já estava grandinho... O ano passado a mãe segurava sua mãozinha. Este ano, ele ia correndo pela grama, com uma liberdade, como se dissesse: "mãe, não preciso da sua mão, posso ir sozinho!".
Não são assim nossos filhos?
Um dia desses, aconteceu um fato engracado. Estavamos sentados na área da minha casa, e minha filha, sentada na cadeira, puxava o corpo para trás e para frente, num vai-e-vem. E eu disse: "Filha, nao faz isso, voce vai cair!". Ela olhou para mim, riu e disse: "Mae, eu tenho 30 anos, eu nao caio mais"... E nos duas caimos na gargalhada!
Ela tenta me dizer num olhar mudo: "Mae, estou pronta para o voo"... E eu penso: "Um dia vai acontecer um voo rasante... e espero estar aqui"...
Quantas reflexões fazemos no decorrer da nossa vida!
Quantas paisagens passam pelos nossos olhos, através da janela da vida...
Lembrei-me agora de um fato engraçado quando falei em paisagem. Aqui em casa eu sempre dirijo mais depressa. Meu marido sempre vai mais devagar, ele gosta de apreciar a paisagem, e nunca tem pressa.
Então quando minha filha era pequena, um dia eu a ouvi falando com uma amiguinha: "quando vou com minha mãe para a escola, eu não consigo ver a paisagem. Mas quando vou com meu pai, eu vejo cada arvore, cada esquilinho (risos).
Voltando nas paisagens...
Todos os dias vemos tantas coisas diferentes, que quase não notamos. Que a correria não nos deixa perceber.
Essa semana sai de bicicleta pela primeira vez, desde o verão do ano passado. E quando passei por uma pracinha, vi um velho que o ano passado estava sempre ali, andando devagar, e depois sentava no banco.
Por um instante senti-me feliz em saber que ele estava vivo. E nem ao menos o conheço. Mas apenas uma antagonia à vida.
Tantas paisagens desaparecem de nossos olhos, tantas pessoas que vemos, e não temos a certeza que iremos vê-las outra vez...não é assim a vida?
Um dia desses estava estudando uma reação que tenho, que não sei se e normal ao ser humano. Ou seja, não digo normal, mas não sei se e algo que todo ser humano sente. Vocês podem me dizer.
A sensação que tenho de levar um tombo, leva-me diretamente a infância. A dependência. Talvez a primeira coisa que venha na minha cabeça seja minha mãe. Porque a mãe sempre esta ali para amparar o filho.
Uma impotência diante de algo que não temos controle. Fico no chão, com uma cara de "coitada" (risos), e com uma fragilidade que desconheço em mim.
Há anos atras fui consertar meu carro, e fiquei esperando no lobby. Havia uma porta de vidro na frente, e sentei-me bem perto, peguei uma revista. De repente eu olhei para fora, e vi uma senhora, rastejando em direção a porta, toda ensanguentada. Eu, que sou uma patife de primeira categoria, levantei-me, abri a porta, e a mulher me disse: "me ajude!". A cabeça dela estava aberta perto da testa. Todos que estavam na sala ficaram sentados - digo todos. Impressionante como o americano tem medo de se envolver nessas coisas.
A mulher deitou, e fui no banheiro pegar umas toalhas de papel, embebi em agua e fui limpar o sangue de sua testa.
O dono da Agencia chamou o 911 (o máximo que um americano pode fazer numa hora dessas, sinceramente). Não estou generalizando. Sei que que existem pessoas diferentes. Mas a mulher, frágil, estava ali deitada e todos olhando-a como se ela estivesse contaminada.
Ela me pedia para limpar o sangue dos olhos dela, não podia enxergar. Fiquei ali, limpando, e pensando na fragilidade do ser humano, quando isso acontece. E a mesma fragilidade que sentimos ao estar num leito de Hospital. Com aquele camisolão, o que somos mais do que "um ser humano", sem vaidades, sem diferença social?
A mulher me disse que seu filho estava lá dentro, deixando o carro dele. Fui chama-lo. A coisa mais engraçada quando ele chegou. Olhou a mãe deitada, (nem se abaixou) e disse: "Mãe, o que você fez?" Como se a mãe tivesse sido culpada de ter caído. Ela havia escorregado.
Chegou o 911 (serviço realmente espetacular nos Estados Unidos!) e num instantinho ela já estava acomodada e medicada prontinha para ir ao Hospital. Depois disso, um policial me chamou perguntando quem poderia ser testemunha. Todo mundo sumiu. Dei minha carteira de motorista e respondi as perguntas dele. Naquela mulher eu me enxerguei.
E se fosse eu que estivesse ali deitada? Alguém me ajudaria?
Outro sentimento que estava lembrando hoje.
A reação de cortar o dedo. Perceberam como todos viram meio crianças quando cortam um dedo? Outro dia meu marido na cozinha cortando uma cebola, de repente virou-se para mim: "Cortei o dedo!".. Me olhou com uma expressão que havia cortado um braço! (risos).
- Onde tem band-aid?? Fiquei olhando para ele, que segurava o dedo, olhando no sangue que saia. Naquele momento o enxerguei-o assim como um menino de 7 anos de idade... Por que essa sensação que temos nessas pequenas coisas que nos acontecem, que nos fazem voltar a infância?
Janela da vida...
Assim passam-se situações diante de nossos olhos todos os dias. Como se estivéssemos viajando num trem. As paisagens se apresentam rápidas ou lentas diante de nossos olhos. E vamos a acompanhá-las, como se estivéssemos bebendo a paisagem, assimilando as coisas importantes.
Nessa minha volta de bicicleta, vi as mesmas flores nascendo, no jardim das mesmas casas... Vi brinquedos de crianças que o ano passado estavam no jardim. Vi os mesmos cachorros latindo quando passo (risos)...
O menino brincando no Parquinho (que sempre cruzo) como cresceu! Era pequenininho e agora já estava grandinho... O ano passado a mãe segurava sua mãozinha. Este ano, ele ia correndo pela grama, com uma liberdade, como se dissesse: "mãe, não preciso da sua mão, posso ir sozinho!".
Não são assim nossos filhos?
Um dia desses, aconteceu um fato engracado. Estavamos sentados na área da minha casa, e minha filha, sentada na cadeira, puxava o corpo para trás e para frente, num vai-e-vem. E eu disse: "Filha, nao faz isso, voce vai cair!". Ela olhou para mim, riu e disse: "Mae, eu tenho 30 anos, eu nao caio mais"... E nos duas caimos na gargalhada!
Ela tenta me dizer num olhar mudo: "Mae, estou pronta para o voo"... E eu penso: "Um dia vai acontecer um voo rasante... e espero estar aqui"...